quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Primeiro dia de aula




Era para ser o segundo se eu não tivesse posto nesta cabecinha que as aulas começavam dia 2. Agrada-me ver as caras felizes das mães, pais e claro, das crianças ao voltarem para a escola. Ninguém achou que estava contracenando com a Sandra Bullock ou a Meg Ryan, nem se abaixou, com a mão ao peito enquanto puxava discretamente um lenço e dizia em tom definitivo um molhado "au revoir". Graças ao Nosso Senhor do meu Saquinho! Multiplica mais mães assim!!
Deu para notar que não sou só eu que andava saltitando em nuvens de algodão doce quando finalmente deixei para trás aquele portão verde. 
Preveni as amigas trintonas desesperadas por engravidar (algumas já gravidas): nunca mais por um período de 18 anos pelo menos, vais ter férias. Não existe férias com crianças. Existe um limbo tipo aquela cena do Matrix quando o Neo descobre que ficou em um liquido pegajoso sendo sugado a vida inteira. Isto é um panorama até alegre da coisa, a verdade é muito pior (acrescentar risada maléfica). 
Sabem aquelas pessoas que dizem nã, a vida com filho não muda nada? Elas mentem. Experimentei dois dias de passeio, nada de outro mundo, uma ida a Cannes e no outro dia, a Monaco. Mais da metade do tempo foi gasto em carrossel e porcarias de jogos porque la está, eles não se interessam por museu, nem casino, nem por andar à esmo pelas ruas. Acho, ~só acho~  um pouco ridículo rodar kms e kms apenas para ir em pracinhas e brinquedos que se tem ao virar da esquina. 
Então não, não consigo entender que alguém chore no primeiro dia de aula de um filho. A criança está indo para a escola não para a guerra, vão voltar a se ver no fim do dia e não ao fim de um ano... 
Se for para chorar, que sejam lágrimas de alegria.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

à hora do almoço

Já se vão trinta anos e parece absurdo saber que há sempre qualquer detalhe sobre mim que desconhecia. Começou a minha vo dizendo que não era para eu nascer, eu sabia. Também sabia que meu 'pai' tentou de todos os modos fazer com que a minha mãe abortasse, mas não sabia que ele queria levá-la à força, que já tinha médico e clínica tudo agendado e que se não fossem meus avós, provavelmente não estava aqui escrevendo isto. Não sei o que pensar, nem o que sinto. Meu passado vai e volta e me deixa à margem como um mero observador. Será que já me curei? Será aquela a minha dor ou a de alguém muito parecido, um sósia, um personagem qualquer? 
E depois lembro-me de que não interessa de nada o tempo vir com paninhos quentes. O que é nosso sempre dará  um jeito de encontrar-nos em alguma conversa casual, distraídos, e enquanto esperamos pela sobremesa.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A nudez das ru(g)as

Sempre disse que nunca gastaria fortunas com creme anti rugas. Sorte minha que o Lidl existe. Dizem que em pele oleosa  elas demoram mais a aparecer, e eu imagino meu rosto como se fosse um canteiro de obras públicas superfaturadas,cuja inauguração a gente não sabe se vai ser no mandato deste candidato ou no próximo. Sorte minha outra vez.
Minha vó diz que esta bem assim. Quase não tem rugas. Ela esquece que quinze anos atrás, eu e minha mãe a encontramos tal qual um ratinho virado em orelhas, com duas bolsas de sangue embaixo dos olhos e hematomas por quase toda a cara. Era so para tirar as "bolsas de cansaço" que se transformaram as olheiras, mas ela havia tirado tudo. Em algumas horas varreu qualquer expressão que fosse sua, apenas restou a cara de surpresa. Minha vó passou anos, uns dois talvez, parecendo-se admirada com o mundo. Os olhos muito abertos e a boca custando a fechar.
Voltou a si aos pouquinhos, uma a uma avenida aberta entre os olhos, e ruelas e becos foram brotando pela testa. Diria que hoje tem sessenta e cinco anos, mas sim, para a idade não tem quase rugas.

sábado, 15 de agosto de 2015

A adolescência da infância

Ninguém nunca me avisou que a adolescência começava tão cedo. A minha vó trouxe o Yoshi, meu cachorro que tinha ficado no Brasil. Ontem à noite discutíamos sobre quem ia levá-lo à rua. O Fabian que observava tudo, levantou o dedo:
- Mãe eu tenho uma idéia,  não te peocupa. Tu fica em casa, o papai fica em casa e eu levo o Yoshi sozinho. Eu já sei ondi qui eu posso andá com ele. Eu já sou grandi porque eu comi tudo!
E eu já tenho cinco.
Maior ofensa para ele é dizer que não,  ainda tem quatro, mas faltam só alguns dias para os cinco anos.

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