terça-feira, 10 de novembro de 2015

Status do dia: puta com a francesada


Ah e tal no Brasil que só tem ladrão,  no Brasil que roubam as coisas. Enquanto no Brasil se reza para que não roubem as encomendas, aqui tem o ditado que  quando tudo corre bem foi como uma carta no correio:comme une lettre a la poste. 
Minha madrinha mandou dois pacotes mês passado: um chegou em menos de duas semanas e o outro me chegou hoje. Em uma caixa de papelão simples e com os adesivos do La Poste. Ao lado tinha um recorte onde se lia a letra dela, tudo que restou da antiga caixa vinda do Brasil. O roubo? Um pacote de farinha temperada, uns doces para o Fabian e um sapato para mim  estilo boneca. "Ah não faz mal, é no Brasil que se rouba, eles nunca vão pensar que foi aqui " , pensou o francês idiota enquanto selava a caixa. Pois pensou errado que eu vou hoje mesmo fazer uma reclamação.  Isto só prova mais uma vez a minha teoria de que aqui as pessoas não são nadicas melhores que lá no terceiro mundo. Apenas tem sorte de ter um sistema que funcione quando estão sendo observados...porque quando não estão é isto, um ser humano igualzinho tanto aqui quanto em qualquer outra parte do mundo.



Atentem para o tamanho da caixa. A original era três vezes maior e com muito mais coisas, claro.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Não tenho paciência para promessas de fim de ano

Então comecei semana passada. Como sou pessoa oito ou oitenta, resolvi largar todos os vícios de uma vez. Adeus refrigerante diet, adeus facebook, adeus açúcar. Talvez eu volte para o face, a vida real se torna solitária quando todo mundo que se conhece está a um passo de um login, mas com certeza dedicarei muito menos da minha vida para isto quando voltar. 
Está tudo ligado. Andava me irritando muito com a quantidade de merda que lia, principalmente com as aberrações que as pessoas chamam indolentemente de opinião. Nem era tanto o cinismo, nem a  patética edição que fazem de sua vida, mas para me virar o humor bastavam achincalhamentos, ignorância política e as polêmicas da semana. Ah, as polêmicas....por tudo e por nada, geralmente por nada mesmo. Aí irritava-me mais que notícia das Kardashian  atravessando a rua (já disse que não posso com esta família? Só de escrever o sobrenome já me vem arrepios), e aí comia. Ou bebia refri. E a cafeína do refri me deixava com mais irritabilidade e dai eu via mais notificações do facebook. 
Decidi não esperar um avc, estou como os AAs, um passo de cada vez, vou resistir só hoje, senhor dai-me paciência para aceitar as coisas que eu não posso mudar, força para aquelas que posso e sabedoria para distinguir as duas. Ah, e voltei a meditar. Foco, força e foda-se. 



terça-feira, 20 de outubro de 2015

Saint Raphaël

Nove meses dormindo e acordando com as gaivotas, sendo visitada por uma pomba que vem, pousa no parapeito da sacada e me olha nos olhos por cinco minutos e depois vai embora. Nove meses sentindo o velho cheiro da maresia pelas ruas estreitas, vendo o sol se levantar dia após dia como aqueles funcionários certinhos que não se atrasam nunca. E apesar disto tudo, Saint Raphaël não é um lugar perfeito porque não há um shopping a menos de 60 quilômetros e não há grande coisa para fazer a não ser passear pelo parque Bonaparte e ver o mar. Perambular pelo deck e ouvir o sino da igreja logo ao virar da quadra ou os gritos das crianças em uma das únicas pracinhas da cidade. 
Não é o paraíso porque às vezes dá saudade de outros lugares, de outros sabores, de outras gentes. Mas eu que sempre estive bem onde não estava, tenho aprendido a estar bem aqui. Na maior parte das vezes, enquanto olho para todos os morros que tentam engolir o sol na sua despedida, sou feliz...






sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Boxe

Depois de muito dar de cabeça na parede (em sentido figurado) aprendi que para bater não é preciso raiva, mas técnica. A raiva é um bom começo, mas tem o inconveniente de nos deixar marcas. Lembro das primeiras vezes que cheguei com os nós dos dedos estourados, um derrame em um pé e ambas as canelas salpicadas dos mais variados tamanhos de roxo como um dálmata. Ao me ver no chuveiro gemendo quando a água me encostava, o marido disse: assim não pode ser, não é possível vir deste jeito todas as aulas. Eu sei...mas não resisti. Não resisti em colocar para fora toda raiva numa sessão só. Olhava para o saco rangendo as correntes e pensava...nem sei no que pensava. Eu não sabia por onde começar. Que tal nos dois socos murchos que dei em um menino que me bateu enquanto meu avô o segurava? Esmoreci, aquilo não me deu raiva, mas comiseração, e esta era a última coisa que procurava naquele momento. 
Depois pensei nas vozes que me invadem para dizer que não consigo, que sou um fracasso. Que não tenho força para tal. Pá e pá. O barulho seco seguido de um apertão no abdômen marcava o ritmo e a raiva era a personagem principal. Não bater em ninguém era a minha premissa (não apanhar também), e este foi um dos motivos por ter preterido  a escola de boxe ao lado do meu prédio. Acompanhei algumas aulas da janela do quarto e decidi que o que eu queria mesmo era aprender a bater no saco apenas. O que também não foi fácil. Não é fácil se despir de toda a programação de como-ser-uma-boa-menina e de repente revidar com força e com vontade aquele objeto inofensivo balançando languidamente. Sei lá se alguém já sentiu isto, mas no começo eu senti dó de bater no saco. Embora eu soubesse que era mais provável eu sair machucada daquele encontro, minha timidez me forçou a dar os primeiros socos quase como pedindo licença e desculpas, para depois entregar-me ao descontrole total. Sou dessas, oito ou oitenta, exagerada, como diria Cazuza, até nas coisas mais banais para mim é tudo ou nunca mais. 
Mas tem uma hora que nos deixamos ir em cada gota de suor que foge pela cara: há um vazio no meio da raiva. Não é possível sentir raiva por tanto tempo, ou melhor, expressá-la, porque a raiva que soltei fedia a mofo e tinha buracos de traça. Há um momento em que não nos resta mais nada, só as batidas de um coração descompassado, só a repiração difícil de quem foi consumido por alguma doença grave e dá os seus últimos suspiros. E depois de sentir-me sem forças, vazia de mim, a mente como uma peneira que deixa os pensamentos esvaírem antes que sejam registrados, vou embora e prometo voltar na próxima aula. O boxe é talvez o único exercício que faço sem pensar em quantas calorias vou gastar.
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