quarta-feira, 18 de novembro de 2015

sábado, 14 de novembro de 2015

Paris

Acordei com mensagens no telefone perguntando se eu estava bem. Não sei se as pessoas sabem, mas moro a oito horas de Paris, e prefiro pular aquela parte em que fingimos se importar e damos condolências mecânicas: oh que horror, meu Deus! Não que não tenha sido horrível, mas aqui está tudo igual, se não fossem as notificações do Le Figaro no tablet do marido, só tínhamos visto de manhã (às vezes a ignorância é uma bênção).
Quebrei minha promessa de ficar longe, mas não consegui resistir visitar o grupo de brasileiros em Paris no facebook, o qual faço parte. Aquilo dava uma tese antropológica, sério. 
Acho incrível como a burrice e a pressa em tomar lados os faz pensar que a extrema direita é a solução para resolver o terrorismo. Vou ser conscientemente preconceituosa nesta frase, mas é o que penso: a maioria dos emigrantes brasileiros na França são povo de pouca instrução, de mente tacanha e agressiva. São dotados do mais alto grau de viralatismo e acham-se vejam só, que fazem parte de uma outra estirpe de emigrantes. Quando conseguem papéis, acham que estão por cima da carne seca e quando conseguem a cidadania, deixam de ser brasileiros para serem apenas franceses. Tomam as dores dos franceses (dos xenófobos, principalmente) e clamam pela Le Pen esquecendo-se que legalizados ou não, serão sempre emigrantes.
Os mortos já estão mortos, volto-me para os que ficaram e penso nas consequências destes atos. Por mais que se diga que não devemos generalizar, a verdade é que o outro sempre foi um problema social. O outro historicamente e culturalmente exerce um papel de coesão no imaginário de uma determinada coletividade. O outro é aquilo que nós não somos, é aquilo que repudiamos quase de maneira instintiva. Desde as cidades-estados da Grécia antiga e até muito antes da escrita, o outro, o estrangeiro, o não-pertencente, serviu de espelho para a construção e consolidação de nossa identidade e por isto, rejeitá-lo em diversos graus faz parte da dialética de nossa formação. 
O outro também tem um papel importante: quando a coisa aperta, é preciso achar um culpado fácil, um vilão comum a quem o povo possa concentrar toda a sua revolta e insatisfação. Oportunistas sedentos de poder oferecem-lhes a cabeça do outro de bandeja certos de que ocupados em odiar, o povo fará o que eles quiserem. 
O meu maior medo talvez não seja o maior medo das pessoas, não é de outros atentados isolados, embora isto seja fácil de dizer morando em uma cidade do tamanho de uma ervilha, mas do crescimento da intolerância com relação aos emigrantes e que isto acabe gerando intolerância dos emigrantes para os nativos e depois isto continue até todo mundo estar se odiando sem saber bem o porquê.
 Eu sou o outro aqui, por mais que esteja legalizada, por mais que contribua com os impostos. Não há para a extrema direita, emigrantes e emigrantes, há tão e só emigrantes e eles não os querem aqui. Simples como isto.

Adoro!

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Não sabia

Que minha língua era capaz de atingir o orgasmo, mas foi o mais perto do que consigo chegar  de descrever a sensação de comer um pedaço de carne com um pouco de gordura. Depois de três anos voltei a botar uma picanha na boca. Embora não tenha sido à moda gaúcha, foi o mais perto disso possível. Ai aquela gordurinha crocante que derrete-se ao mais leve roçar de dentes...que só virou post pela obstinação ridícula do franceses de torcer o nariz para qualquer gordurinha (e amputá-la da picanha é uma heresia). Eu até levaria à sério se a preocupação se estendesse a todos os tipos de carne e não apenas à bovina. Já cansamos de confundir peito de pato com uma picanha cuja capa de gordura é bem farta. 
Claro que não é coisa para se comer frequentemente, no entanto, é dose fazer um assado com absolutamente nada de gordura, a carne fica seca, horrível. Volto a dizer, o "nojinho" se limita à carne bovina mesmo, não podemos pensar em um certo zelo com a saúde se há tantos enchidos, bacon, patês, que não fazem nada bem mas estão corriqueiramente na cozinha francesa. Esta mania parece com os tiques de uma amiga que não come se não passar três a quatros vezes o guardanapo nos talheres, mesmo que tenha sido ela que os lavou. Um dia, meio irritada, perguntei se ela achava que resolvia alguma coisa e lhe dei o exemplo de que se eles tivessem caído na privada não haveria esfregadas que tirassem o que ela chamava "bichos". Ah vá, se é para limpar, limpa direito, vai mergulhar em álcool duma vez! Se é para deixar gordura, que custa deixar na minha picanha?!

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