Quando pensei em ter um filho nunca imaginei o quanto isto me custaria, qual seria a parcela do casamento que ficaria por pagar nem por quanto tempo estaria no spc do amor. Também não pensava no quinhão de identidade que me seria usurpado nem se algum dia eu reconstruiria meus pedaços. Quando eu pensei em ter um filho, já pensei em tê-lo longe da família, minha rede de apoio era pequena, porém hoje é inexistente. Quando pensei em ser mãe, não pensei nas voltas que o mundo daria, nas voltas que eu daria até ter de novo um lugar para morar. Não pensei em estarmos só eu e ele, o marido a quilômetros de distância, nem na solidão que se tornaria a minha vida. Porque ser mãe não preenche todos os meus espaços, não me fez virar uma pessoa melhor, uma heroína montada num unicórnio (saudades She-ra...). Ser mãe me fez ficar mais crítica com esta parcela que acha que ter filho é tudo de bom e que quanto mais crianças tiver, mais feliz a mãe é. Mesmo que não tenha a mínima condição para criá-los.
E eu não estou falando dos pobres miseráveis, falo de gente de classe média mesmo, ter condição de criar não é só ter dinheiro para uma creche top e dinheiro para babá ao fim-de-semana.
É verdade que não se põe todas as possibilidades em jogo quando se coloca alguém no mundo. Ninguém pensa que pode perder o emprego, mudar de país, mudar de vida, perder amigos. Ninguém pensa que pode morrer e deixar o filho com um pai maluco que dá banho gelado nas crianças, que é mau, bruto e negligente. Porra, e me dá ainda mais raiva e impotência saber que isto acontece na minha família...