sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

O espelho

Ajeitava o cabelo milimetricamente bagunçado de gel. Um topete que formava uma onda prestes a estourar lhe acrescentava mais de quinze centímetros de altura. Como se precisasse. Ele deve ter mais de um metro e noventa, mas ainda não teve tempo de desenvolver carne, o corpo estivera apenas ocupado a fazer crescer os ossos esquecendo-se do resto. Usava uma calça jeans justa, destas que uns anos atrás era considerada feminina, mas que hoje todos os jovens descolados tem. O casaco aberto em desafio mostrava que vestia apenas uma camiseta branca por baixo, muito provavelmente de manga curta. Sentir frio nessa idade é secundário, claro. 
Ao se ver observado, parou por instantes de ajeitar os fios de cabelo endurecidos, deu uma ultima olhada no espelho e saiu deixando um rastro de perfume masculino no hall do prédio. Abri a porta para que passasse e fiquei olhando até a sua figura esguia e desengonçada se esgueirar pela esquina. Realmente há gente que é tão caricatural que parece saída de algum livro ou filme...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Depois das bandeiras francesas saírem dos perfis

Aqui o rescaldo dos atentados nos deixou a decisão que acredito não terá volta, de não deixar mais os pais entrarem na escola. Toda saída é aquele amontoado de gente no portão, a diretora se esgoelando para ser ouvida, bafo no cangote, uns atropelando os outros para que seu filho seja chamado primeiro. Esta semana as crianças cantaram musicas de natal, iam fazer uma apresentação, no entanto foram filmados e pediram que levássemos um pen drive para gravarem. Confesso  que acho uma medida tola, não acredito que aqui tão longe e numa cidade sem qualquer destaque possa se tornar alvo do que quer que seja. Mas é dessa forma que o terrorismo vence, através do medo que aos poucos se transforma em paranóia. Engraçado notar que na escola de uma amiga muito mais perto de Paris, estas medidas não foram tomadas, enfim...

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Sobre as calças cintura alta...



vulgo "centro-peito", é a melhor pedida se eu quisesse sair por ai desfilando uma linda barriga de sapo. Estas calças não ficam bem a ninguém, talvez àquelas modelos muito magras, mas eu não dei altas risadas à custa de fotos familiares para depois porque dizem ser moda, voltar a usa-las  (graças que inventaram as calças centropê eu tinha 12 anos). Quando elas chegaram eu disse que nunca mais me enfiaria naquela coisa que eu já achava feia. E vendo as lojas on line, percebi que as skinny finalmente perderam o reinado, embora existam em boca de sino, não há sequer uma opção de cintura baixa ou mesmo média. Assim se fazem escravos da moda...No meu caso, isto só me faz conservar as roupas que tenho há mais de dez anos no armário. 

domingo, 6 de dezembro de 2015

Os opostos se atraem

Não me parece, pelo menos no que diz respeito às amizades do Fabian. Em Schiltigheim tínhamos o Alperen e aqui temos o Evan, tão agitado quanto o meu filho. Quem dera se a física estivesse certa, mas o que acontece é algo próximo à explosão. E não exagero, a professora já os proibiu de sentarem juntos na aula e inclusive de brincarem no pátio. E eu achava que era mais uma das invenções que ele conta... 
Ontem chamei o amigo para passar a tarde aqui em casa, para que né? Onde eu andava com a cabeça? Pensei que a qualquer momento me batia à porta um vizinho para mandar eles ficarem quietos. A mãe do menino esteve um pouco de conversa e descobrimos muitos fatos em comum, principalmente a sensata decisão de que não teremos mais filhos. O Evan também foi um bebe exigente e só fez noites completas à partir dos quatro anos, como o Fabian. Ela também teve depressão pós parto, também tem pouca paciência e regula de idade comigo. As vezes me pergunto sobre o que veio primeiro; se o Fabian é uma criança difícil porque me decepcionei com a maternidade ou me decepcionei com a maternidade porque ele é uma criança  difícil? E não tenho resposta, tal qual a historia da galinha e do ovo. Ainda acho que tudo começou em uma placa de petry com um espermatozóide que nadava tanto, mas tanto, que o biólogo achou que era boa ideia escolher aquele ali...
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