quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
terça-feira, 22 de dezembro de 2015
Põe, mas só a cabecinha
Foi engraçado ver a cara de surpresa quando eu disse na aula que não, sinto informá-los mas o Brasil não é este "olê olê"* que vocês pensavam. Ohh, mas como assim? Quer dizer, quando eu falo que sou brasileira tenho a impressão que junto com o sorriso, a pessoa ta imaginando que em casa tenho uma fantasia com plumas e que passo o aspirador de fio dental enquanto sambo. Mesmo para alguém mais instruído, é difícil explicar que a nossa relação com a sacanagem é um paradoxo. Para isto é preciso lembrar que antes das invasões portuguesas e espanholas, os nativos tinham o sexo como uma coisa natural e isto só mudou com a imposição do catolicismo. Somos uma cultura plural, mas com um denominador comum: o Brasil é um país extremamente crente e ainda encara o sexo de uma forma fetichista. Acho, por exemplo, que uma francesa é muito mais livre de expressar sua sexualidade do que uma brasileira, e isto deve-se porque a primeira mora em um país com menos interferência religiosa e machista do que a outra. Foram necessários séculos para que as francesas pudessem usufruir deste direito e infelizmente as minhas compatriotas ainda tem um caminho longo pela frente.
As brasileiras ainda se revolvem na dicotomia santa e puta, onde puta é a mulher que tem sexo com quem quiser e com a frequência que quiser e santa é aquela que faz tudo isto, mas na surdina. Os gringos olham as passistas semi-nuas e fazem um filme erótico em suas cabeças, acreditam que lidamos bem com a nossa sexualidade tão e simplesmente porque a expomos. O Brasil não é para principiantes, já dizia Tom Jobim. O corpo que está descoberto pode muito bem abrigar o pudor e isto não se trata apenas um jogo de palavras, pois sabemos que ao contrario do que pensavam, há pecado debaixo da linha do Equador.
Depois de um tempo comecei a pegar implicância com uma música que dizia "nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda". Afinal se a idéia é combater os estereótipos e moralismos, faz sentido ao invés de questioná-los, darmos mais força apenas nos deixando de fora? Tipo nem todo baiano é preguiçoso, nem todo alemão é nazista, nem todo pobre é ladrão? Coisa mais tosca.
A sexualidade brasileira é como aquela historia de pôr só a cabecinha, é a vitrine do proibido passando em horários familiares, inclusive em programas infantis. A malícia convivendo inocentemente em trocadilhos como aquele jogado ao casal que namorava pelo atendente da lanchonete: vai comer aqui ou quer que embrulhe para viagem?
Ademais, o brasileiro é um libertino extremamente conservador. Existe uma lógica que só quem nasceu lá consegue entender: pau que nasce torto nunca se endireita, menina que requebra, a mãe pega na cabeça. É francesada, não esqueçam de segurar o tchan, e amarrar o tchan quando pensarem que o Brasil é um país bem resolvido sexualmente, quando na verdade andamos mais pela adolescência punheteira, morrendo de medo que nos cresçam pêlos nas mãos.
* Olé olé; Expressão francesa para a nossa boa e velha sacanagem
Um abraço para quem leu cantando rsrsrsrs
Comédia da vida privada
Parece uma novela de Nelson Rodrigues, mas não é. Um corno sustentava as mãos ensanguentadas por ter quebrado os vidros do carro do amante. O cenário: a saída do motel. O amigo do corno filma e põe lenha na fogueira, xingamentos são ouvidos. O corno se descontrola, arranca a mulher do carro. O amante se acovarda dentro dele. Seria uma história constrangedora se restasse em bocas conhecidas e provavelmente se restringisse apenas à cidade em que ocorreu. Isto se o corno não resolvesse em um rompante de vingança, espalhar internet à fora sua tragédia.
Sabemos que a tecnologia tem levado a uma super exposição da vida particular, tornando cada vez mais difuso distinguir o público do privado, contudo, os momentos partilhados são geralmente os positivos para aquele que se expõe, em detrimento dos negativos. É o chamado marketing pessoal, onde o parecer se sobrepõe ao ser. No entanto, este homem preferiu passar sua humilhação adiante porque sabia que mais importante do que o corno e mesmo que o amante, está a adúltera, a puta.
Milhares de memes, de contas falsas em redes sociais foram feitas em nome da moça, somadas a milhares de xingamentos e ameaças. Tudo gente muito fina, cristã na maior parte das vezes e que nunca traiu. Não consigo imaginar onde este moralismo todo vai se esconder no próximo carnaval. É que é muita perfeição neste Brasil véio. Vai faltar óleo de peroba para passar na cara de tanta gente!
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