quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Este Natal...


Vai ser assim, só nós três. Vai ter peito de peru (que um inteiro já é demais), molho de natas com queijo e cogumelos, batatas com casca assadas com azeite e uma torta de bombom (que vou fazer pela primeira vez).
A ávore já está montada e já caiu em cima do Fabian apenas 20 minutos depois. Caiu não é bem a palavra certa. Foi puxada, esticada e cedeu. E ele não conseguiu tirar a bolinha, mas em segundos ficou rodeado delas, saltitantes e chorou. Agora é assim, chora de manha um grito fininho de tinir os ouvidos.
Sorte dele é que desta vez só as bolinhas de plástico foram penduradas, isto porque já previa que teimaria em lhes arrancar o tempo todo. Mas gostou das luzes piscando e do boneco de neve na parede.
Este natal vai ser o primeiro em que não teremos presentes, nenhum de nós. Vamos (tentar) celebrá-lo como deveria e como era antes da mídia toda despir-lhe o significado. Não, eu não sou fundamentalista e nem pretendo que seja sempre assim. Mas devido as circunstâncias aposto que será uma boa experiência. :)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Eu no divã


Ultimamente tenho pensado muito nas minhas atitudes como mãe. Já falei tantas vezes aqui da minha dificuldade de vinculação com o Fabian que até perdi a conta. A verdade é que eu não sei se toda mulher tem mesmo este instinto ou se depois de instinto ele torna-se algo muito maior: o tal amor incondicional. Eu juro que isto fica me angustiando a cada vez que leio sobre isto. E confesso que também acreditava que ia acontecer comigo, instantaneamente quando me tornasse mãe. A verdade é que estou à espera do tal amor incondicional. Porque muitas vezes me passa pela cabeça que me arrependo de ter tido esta escolha, que odeio ser mãe e não consigo me adaptar a esta mudança. Muitas vezes olho com irritação para o meu filho e odeio a ideia de alguém depender de mim. E porque eu? Porque não aguento o choro, o puxar na roupa, aquele lamento por horas... eu não sei, algo dentro de mim vem à tona, borbulhando, desato a gritar, a dizer coisas ofensivas e muitas vezes disse a ele que não queria que ele tivesse nascido. Logo eu que tanto infernizei o marido para ter um bebê. Não me reconheço. Na hora sai tudo aos solavancos, depois dá um nó, a garganta murxa e dá vontade de recolher o que disse, mas é tarde. E isto acontece muitas vezes.
Às vezes penso que esta história de mãe é como qualquer outra experiência: ou se gosta ou não se gosta. E eu não gosto a maior parte das vezes. Mas nunca na vida posso expressar o que sinto. Porque é feio. A sociedade nos obriga a encenar um papel de mãe. Algumas passam a sentir mesmo este tal amor e as que não sentem devem fingir até o fim. É assim que sinto. Pelo menos acho que não sou a única em 6 bilhões de humanos neste mundo. Acho...
Porque para o homem é mais fácil? Porque se exige menos? Não é incomum ouvir alguém dizer que não gostou de ser pai. Meu próprio padrinho dizia. O Alexandre Frota também. O que quer que isto signifique. Mas já leu alguma mulher dizendo aos 4 cantos o que sente sobre a maternidade? Não estou falando daquelas pessoas pertubadas que matam, torturam e sei mais o que. Estou falando de pessoas ditas "normais", como eu lol.
Sinceramente não sei se me faltou amor. Sei é que é difícil dar. Quando se é filho se está sempre na posição de receber, mimo, carinho, cobrança, amor talvez. Minha mãe diz que era amorosa, mas eu não sinto isto. Nunca foi muito de abraços. Se ela diz que fez isto e aquilo para mim, deve ter sido antes dos dois anos, porque depois disto eu lembro bem e a história não foi bem esta.

terça-feira, 15 de novembro de 2011


E assim devagar estou voltando ao meu corpo. Parece brincadeira mas sinto como se o tivesse abandonado quando se tornou um planeta estranho, infértil e gigante. Aos poucos sua atmosfera foi modificando e permitiu que houvesse vida ali novamente. Ainda não é o meu corpo, mas este nunca será o mesmo, o que espero é que fique melhor do que era. Com o tempo.
Já se foram 17 quilos, faltam 4. As roupas já servem (a maioria), tem sido muito bom experimentar e ver que antes mal cabia um perna e agora as duas cabem perfeitamente e deixam uma bunda e uma barriga passar. Ah isto dos espelhos! Volto a olhar para eles. E digo (que ninguém me ouça): mas tu tá muito linda! Um arraso de mulher sim, sim! Estou gostando deste novo eu. Acho que finalmente nasceu em mim uma mulher, linda, decidida. E que a-d-o-r-a dizer não! Nãoooooooo! Bem comprido. Quer passar o Natal aqui? Não. Vamos acampar na praia? Nãooo. Fica com os meus filhos hoje? N-ã-o. Faz para mim esta parte do trabalho? NÃO!
Chega, cansei. Cansei de querer agradar os outros e não estar nunca aí para mim. Agora é assim: se puder ajudar, ajudo. Mas primeiro eu, eu e eu. Ufa, pronto: me assumi.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

E será que algum dia?...

Há umas duas semanas (acho) tive uma discussão com uma amiga. Eram mágoas antigas que foram ficando para trás, que fomos passando por cima, mas ante um telefonema meu desesperado por causa dos problemas com a minha mãe, ela acabou me dizendo coisas que queria ter dito há algum tempo. Não sei se naquela hora era o que eu precisava escutar, muito provavelmente não e por isto ficaram a pairar na minha cabeça frases soltas, ríspidas, trêmulas, em círculos.
Quando ela veio aqui em casa perguntei o que queria dizer com aquilo e aí foi uma conversa longa, mas que eu fiquei magoada e ela também. No entanto, ela primeira vez consegui dizer algo que sentia e que até então me parecia sem importância, mas como dizem: quem fala o que quer, escuta o que não quer... E ela escutou bastante.
A ideia é que eu sempre que ia lá ou nos encontrávamos ouvia uma indireta e que muitas vezes era dita com brutalidade, mas eu sempre procurei entender e desculpar, achando que ela devia estar estressada ou coisa assim. E depois ela me diz o contrário, que eu digo coisas que a magoam e que por isto, ela que tem uma personalidade bem forte, não consegue se calar e zás nos meus dedinhos. Eu admito que às vezes não tenho muito filtro e que faço comentários bobos, mas são isto mesmo e nada mais, são apenas bobos e não maliciosos. Por exemplo, uma vez disse a uma outra amiga que finalmente a via bem vestida. Mas falei brincando e muito feliz por vê-la bonita, sem se esconder em roupas de mulher com mais de 70 anos, tendo ela 40.
Só que eu tenho menos 15 anos de vida que eles todos, amigos do meu marido. E quando vim para cá tinha apenas 21 anos, era uma menina boba, mas esforçava-me em me dar bem com todos. Sendo que meu lema foi estar sempre na minha e me afastar de polêmica e escândalos, que sentido faz eu fazer comentários só para magoar alguém?!
Mas isto são coisas minhas e quando ela faz coisas do tipo: no Natal, estava eu enorme de gorda, sem uma roupa que me servisse. Entro finalmente em um vestido que fica com os botões pedindo socorro e ela diz para a filha e para todos: olha a fulana tá igual a Nyne, os botões estourando. (porque tínhamos dado um vestido a menina e ficou pequeno, mas mesmo assim, ela gostou e não tirou). Isto vindo de uma ex-obesa que fez cirurgia para emagrecer... Ah poxa, só sabe olhar para o umbigo dela.
Mas o x da questão, que ela bateu tanto na tecla, era que eu tinha que aceitar os outros. Aceitar os outros como são. Ora e quem é que aceita alguém, assim, "realmente"? Eu não acho que estou no estágio evolutivo de Jesus ou Budah, ou Madre Teresa. Eu sou uma pessoa que ainda está na fase do tentar e de que respeitar é o máximo que consigo perto de aceitar. E que ainda assim, muitas vezes acho que isto podia ser diferente, e respeito apenas nas ações ou nas palavras, ou no silêncio. Embora na minha cabeça esteja uma vontade desaprovadora ou uma simples contrariedade por estar escutando ou convivendo com a pessoa tal.
Aceitar para mim é um degrau acima. É não revirar os olhos quando alguém diz uma coisa que nos irrita. É ver com complacência o adolescente que tudo sabe. É ter paciência com os mais velhos que tendem a ser muito mais inflexíveis que nós. Aceitar é ver com amor a outra pessoa, a essência, só a sua parte "boa". É dizer só com o coração, eu te vejo, eu te amo. Assim, não precisa mudar nada. Eu me adapto a ti. És lindo por dentro, mesmo com tudo que nos torna diferente, há algo em ti que nos une. Nós. Eu. Eu te aceito. Eu me aceito.
Aceitar para mim é isto. É a morte do ego. Pois só queremos mudar algo porque nós não conseguimos conviver com aquilo, seja o que for. Uma pessoa, um povo, um barulho, um hábito.
Mas como sou muito sincera comigo, ainda não aceito quase nada. Quem me dera que o mundo dançasse conforme a minha música, que as coisas fossem quase perfeitas. Que as pessoas fossem educadas, não fumassem na minha cara, respondessem ao bom dia, não empurrassem na escada rolante, deixassem eu passar na porta do metrô antes de entrarem. Quem me dera que a minha mãe não me cobrasse tanto, que o dinheiro fosse mais, que o corpo fosse menos, que o marido soubesse poupar como eu.
E quem somos a não ser crianças que ainda olham para o mundo como se fosse um brinquedo nosso, mas que apesar disto, se move com suas próprias regras, fingindo não nos pertencer?

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