segunda-feira, 23 de abril de 2012

Acho interessante as pessoas que dizem que gostam de mudar, ou que nos desafiam a ser pessoas mais maleáveis. Mudar não é fácil. Seja de país, seja de estado de espírito. Seja de manequim, seja de idade. Seja para casar, seja para ser pai. Quem diz que mudança é fácil deve ser algum mentiroso compulsivo ou coisa assim. A verdade é que o ser humano é uma espécie de hábitos, que gosta de uma certa rotina, que se acostuma, é verdade, com quase tudo, mas que leva imenso tempo para tal. Antes de aceitar, fica geralmente a bater com a cabeça, a dar murro em ponta de faca e a desejar ardorosamente que as coisas voltem a ser como eram. Que a realidade se adapte a si. Sim, é claro que o passado é que era bom. Parecemos crianças birrentas a lutar contra a maré. E aí...cansamos...nos adaptamos. 
Demorei cinco anos para me adaptar em Portugal. Lembro-me das brigas que tinha o o marido porque queria voltar. Porque não suportava o sotaque português. Não queria ligar a tv, não queria sair à rua. Aquilo incomodava-me. Aqueles erres, aqueles eles, aqueles tês e o som anasalado da pronúncia me feriam, agrediam-me de um modo que não consigo explicar. Era como se me lembrassem o tempo inteiro que era uma intrusa, que não pertencia aqui.
Não fiz esforço algum para gostar de Portugal. E na minha cabeça nem havia espaço para isto. Simplesmente um dia acordei e dei por mim a achar normal ouvir este sotaque em toda a parte, já não prestava mais atenção em como chegava a mensagem, mas na mensagem em si. Deixou de ser importante os acentos, as diferenças de cultura, o meu sentido de preservação finalmente relaxou. Tinha conquistado meu espaço.
Tudo isto para dizer que, embora varie o tempo de adaptação, mudança é sempre trágica, no sentido em que é uma morte. Uma parte de nós morre naquele momento, mas não morre fácil, agoniza, clama atenção, ao mesmo tempo em que se inicia um parto difícil. Morre e nasce algo diferente e geralmente o processo é tão lento que não sabemos ao certo o momento em que deu-se a ruptura entre o velho e o novo. Daí não fazer qualquer sentido uma pessoa que queira mudar. Porque? Porque quando se quer mudar a qualquer custo, cria-se uma resistência, porque a vida tem o seu tempo para acontecer. Por isto a frase que li no Livro do Perdão, fazer muito sentido: mudança não é uma coisa que se faz, mas uma coisa que se permite. Ou seja, não é um processo ativo, mas pelo contrário. Então não me venham dizer que é fácil, viu mensagens de facebook?
Conversa de sexta à noite, antes de dormir.
Marido: Te amo muito, muito obrigado por fazer parte da minha vida. - Suspiro. Beijo.
Eu: Amor...
Marido: Hum?
Eu: To com medo.
Marido: Eu também...eu também.  - Abraços.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Estamos muito embaixo aqui em casa. O marido tem até o meio do mês para sair do trabalho e sequer deram um mês de aviso. Isto de ser recibos verde tem destas. Estamos à procura de emprego e a procura de bom humor, esperança, já agora.
É difícil sentirmo-nos inseguros. Talvez esta decisão nos leve para fora, quem sabe? Eu que não sou muito adepta das mudanças, eu que tenho os pés com raízes nas pontas...queria ser mais daquelas pessoas que veem tudo com um desafio. Daquelas que leem  "O Segredo" e fazem mural de visualizações. Ao invés disto fico ansiosa, com medo, muito medo do futuro.

domingo, 15 de abril de 2012

Eu no divã: "Filhos para que tê-los, mas como saber sem tê-los?"

Conselho que muito provavelmente nunca me ouvirão dizer (principalmente para quem está louco para ser pai). E é por isto que não tenho coragem de aparecer muito nos fóruns de infertilidade nos quais vejo pessoas tão desesperadas quanto eu era, tão amarguradas com a vida e com os outros, tais como eu era há três anos atrás.
Se alguém pensa em ter um filho porque ele vai completar a sua vida, não tenha. Um filho vai preencher as suas horas de solidão com choros, com noites em claro. Não, ele não lhe fará companhia e, pelos menos nos primeiros anos, ele só vai querer saber das necessidades dele. Se alguém pensa que um filho pode lhe fazer feliz...bem eu pensei que fizesse. Mas não. Um filho pode trazer alguma alegria, mas dificilmente alguém que nunca está satisfeito ficará com uma criança o tempo todo a exigir atenção. Ainda mais se este alguém gosta de estar sossegado, de ver internet, fazer sexo com seu companheiro a hora que tiver vontade. Se alguém quer ter um filho porque só lhe vem a cabeça bebês de novela (que choram só na hora que a cena pede), ou porque os amigos todos tem, ou porque o negócio é casar, assentar e...ter filhos. Não tenha. Um filho não se devolve, não se empresta, um filho vai depender de você por pelo menos duas décadas. Pensou que é muito tempo? Talvez você já esteja cansado, sentido-se sugado, velho, e já não ache que viajar, ir no cinema, botar aquela roupa especial faça de novo parte da sua vida.
As pessoas romanceiam muito esta história de ter filhos. Há mas dá trabalho e é bom. Será? Eu não acho bom na maior parte das vezes que a vida não dependa de mim. Que as decisões dependam de um ser de menos de um metro de altura. Se vamos ou não sair, se ficamos mais tarde acordados, se vamos "namorar", se ele vai chorar e atrapalhar tudo. 
Eu nem sei, acho que se não consigo sentir prazer nisto que todo mundo sente (ou pelo menos dizem que sente), não sei mesmo que tipo de monstro eu sou. Ou de pessoa. Que vê muitas vezes o filho como um obstáculo para a sua "felicidade". É uma ironia porque uns anos antes, era a fonte, o Santo Graal que persegui tão ferrenhamente. 
Hoje minha vida é em função do Fabian, buscar na creche, fazer mamadeira, dar comida, trocar fralda. Eu até sei que isto vai mudar, daqui uns anos ele está mais independente, vai poder ficar em casa sozinho, vai ter  festas de aniversário aos fins de semana. Mas não quero, tenho medo, de ficar como uns amigos, que já estão tão habituados a terem os dois filhos a tiracolo que quando tem estes momentos, olham-se sem saber o que fazer. 
Muitas vezes eu penso, se pudesse voltar atrás. Se pudesse ser tudo um sonho e eu acordasse com aquele corpinho que tinha, e visse que a maternidade não era bem a minha área, ia desistir dessa ideia de engravidar, de fazer tratamentos e tratamentos. Porque eu na maior parte do tempo, queria voltar e seguir por outro caminho. Mas isto não é possível, e a parte mais difícil neste momento da minha vida é aceitar. Aceitar e tentar viver da melhor forma as escolhas que fiz.

Web Statistics