Se crescemos em um lar católico ou mesmo em um país católico já ouvimos pelo menos uma dúzia de vezes que não devemos julgar os outros. Às vezes vem com o complemento "para não sermos julgados". Jura? Põe a mão ao ar quem nunca julgou? Penso eu que as pessoas não deviam exigir algo que ninguém está preparado para lhes dar. E aquele que julga, ou seja todos nós, não só julga como também constantemente preocupa-se em ser julgado, rechaçado, humilhado, debochado...enfim. Aquele que julga também teme e cria um escudo de proteção contra os outros. Vai daí que este escudo tem uma falha. Às vezes tudo que ele recebe, mesmo sendo um comentário inocente, pensa que é julgamento. Meus amigos, não confundam julgamento com opinião. Mas este é o problema de quem julga (já disse que somos todos nós?). Julgar é uma forma de pré-conceituar as coisas. Não é bonito, mas é necessário. Se eu não classificar o mundo a minha volta, viver se torna complicado porque estarei continuamente tentando conhecer o que me rodeia e isto não é prático. E provavelmente nossa espécie não estaria aqui se ficasse a ver se todas as florzinhas tinham o mesmo cheiro. Portanto julgo eu que elas devem ter e ponto. Julgar no sentido cristão vem de maledicências, mal dizer a vida do outro, ridicularizá-lo em praça pública, etc. Isto eu faço. Às vezes. Não a parte da praça porque sou um pouco tímida para circo. Mas pronto. Todo mundo inevitavelmente fala (ou comenta que fica mais bonito), nem que seja para o marido. Então porque nos armamos em vítimas quando este feitiço vira contra nós? Acho um pouco engraçado aquelas pessoas que falam tudo que vem à cabeça, porque são francas e são curtas e grossas e que os outros aguentem a sua verdade porque ela lá não tem paciência para fingimentos. Acho interessante porque estas mesmas pessoas são aquelas em que o escudo é mais falho. Isto porque como estão constantemente a agredir os outros com a sua opinião, acreditam que por isto pintam um alvo na bunda. E daí todos os comentários bem ou mal mandados caem no limbo do ataque e agressão. Aí elas se ferem e agridem mais e aquilo se torna um círculo desencadeado e alimentado pela força da expressão. Já convivi com pessoas assim e o gozado era que sentia-me machucada mas a amiga em questão disse-me depois que era eu quem a agredia e ficávamos assim a nos espinhar durante alguns anos. Acontece que eu na altura era muito inocente e não percebia que algumas coisas que disse esbarrava no alvo dela.
Já sabemos que o mundo virtual é feito de carne e osso e que as redes sociais são como aqueles apartamentos estilo cortiço/COHAB em que cada um grita uma coisa da janela e aquele que escutar e pegar para si dá início ao barraco. Tenho a impressão de que as pessoas eram mais amigas quando falavam as coisas cara a cara do que hoje no meio das teclas de um computador. Isto porque o cara a cara deixa transparecer o sentimento daquele que fala, diz se é brincadeira, diz se é sério e cala principalmente quando vê que o seu ouvinte não está em um bom dia. O relacionamento de hoje, virtualmente falando, é como convidar 300 amigos a partilhar o seu apartamento, é deixar que até o conhecido do seu primo saiba o que você está pensando no momento. Cara, pensamento é muito íntimo. Não devíamos deixar ele andar por aí sem roupa, sem senso de decoro. Pensamentos soltos são como uma sacola plástica a rebolar no vento, pode calhar a qualquer um. E dependendo da sua essência, podem ferir, muitas vezes não aquele que lhe era dirigido, mas alguém que nada tem a ver com isto e que está em um dia não. Portanto, sejamos honestos, mas conosco próprios. Julguemos, mas em silêncio. Vamos rir, mas é com o nosso companheiro. E se nada resolver, bloqueie algumas pessoas de sua vida. Trezentos amigos nunca caberiam no seu coração.