quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A revelação

Precisamos conversar ele disse. Agarrou o copo das suas mãos e pousou sobre a mesa depois do jantar. Ele suspirou, balançou a cabeça como se isto fizessem as palavras saírem mais rápido e lhe disse mais seco do que previra:
- Eu te traí Helena. 
Houve silêncio. Ouve. Os olhos encaravam o chão, mas as mãos continuavam frias agarradas no seu braço. Mania tinha ele de lhe encostar quando falava, de tocar em seu cabelo a fazer espirais tal como uma amiga de infância fazia quando chorava. mas as mãos estavam inertes, agarradas. Ela tinha a boca seca. Pensou em servir mais vinho. Imaginou o líquido descer vermelho sem pudor sobre a transparência cristalina, resultado da doença obcessivo-compulsiva da empregada. Salpicos de vinho sobre o copo e no fundo jaze a sua morte. Ou a dele. Depende de quem olha. Mas não o fez, o vinho continuou repousando sobre a toalha de detalhes dourados, ainda tinha as iniciais da sua avó bordadas nos cantos. O que faria ela se ainda estivesse aqui? Perdoava? Perdoava. E ela?
O homem desta vez procurou os seus olhos e temia que não sairia daquela mesa sem uma resposta, nem que fosse um não. Ao invés do silêncio alguma coisa levantou-se ao seu favor e pediu-lhe o corpo para falar:
- Quero que me conte.
- Conte o que?
- Quero tudo, nomes, detalhes, datas. Quero saber como foi. Quero saber se valeu a pena.
Ele intimidou-se, visivelmente desconcertado:
- Mas de que adianta saber? É para ficares com mais raiva? 
Ela manteve-se firme. Sem enredo a história entre eles chegava ao fim. E ele sem avistar qualquer saída, acatou-lhe o pedido e começou a contar a primeira vez, enquanto tomava largos goles. Queria vodka ao invés de vinho. Vodka deixava tudo absolut não?
E a mulher bebia os detalhes, iria embriagar-se em hotéis fedorentos, em oportunidades buscadas entre o horário de almoço, entre viagens a negócio, entre corpos dos mais variadas formas. Loiras e baixas, cristãs e lolitas, estavam ali todas elas nuas, expostas a curiosidade da mulher traída. Ela nada dizia, nem seus olhos. Nenhuma réstia de aprovação ou desagrado. Talvez ela pudesse ser da guarda da rainha e nunca lhe dissera. No final, suava pelas têmporas e o peito. Sentia os cabelos grudados embaixo da camisa cinza. Ela esperou que se confirmasse mesmo o fim de toda sua luxúria e lhe disse sem pudores com a mão em seu sexo:
- Quero foder você agora.
Ele sequer acreditava no que ouvia/sentia. Aquela mulher depois de tantos anos ainda conseguia lhe surpreender, mas quando levantou-se já a lhe apalpar o traseiro, ouviu a sua voz, ainda sem se virar:
- Amor, chega. Está ótimo, esta já é a quinta vez que encenamos isto. Vai dar tudo certo no teste amanhã. Só queria saber quem escreveu isto, provavelmente alguém que nunca tenha sido traído.
- É...mas tu perdoavas?
Ela em um olhar rápido virou-se para o quarto sem lhe responder.

A História e eu: uma história de opostos

Não tenho mesmo nada a ver com os meus ex colegas de curso. A princípio até sinto-me mais deslocada ainda do que quando estávamos na faculdade. Eu era aquela que não era patricinha, mas também não era "bicho-grilo" da paz, yeah. Também não gostava de história política e econômica, identificava-me com história cultural e história oral, história de "causos", de gente de carne e osso, de tripas e lágrimas. A mim não fazia diferença quando o professor vinha com um discurso cheio de datas e mapas, de Estados e governos, de revoltas e guerras.  Acho que nestas horas sonhava com algum romance que com sorte escreveria (se a imaginação não fosse tolhida com o historicamente correto e o professor com dedo em riste para não fazer mal juízo da história). 
Hoje vejo alguns dos meus ex colegas de faculdade pelo facebook e chego a conclusão de que o tempo transformou-nos em três tipos de historiadores: aquele tipicamente chato, esquizofrênico que analisa cada piada, cada filme com rigor histórico. E por consequência não gosta de nada, porque nunca hollywood fará alguma coisa que preste. Este tipo gosta mesmo é de Woody Allen e de Marx, acha muito importante ter um poster do Che Guevara no quarto ou na sala, se já tiver alugado um apartamento no centro de Porto Alegre, naqueles prédios caindo aos pedaços. Estes caras fazem questão de mostrar ou melhor esfregar seu senso crítico em cada postagem daquelas mensagens de sabedoria facebookiana, porque eles tem de mostrar que não brincam em serviço, que estão ali muito sisudos a analisar o conceito contemporâneo do neocapitalismo digital. 
O outro tipo é o do professor de escola de ensino básico. Tem uma vida assim, de sacerdócio, não porque sim, mas porque o salário assim os limita. Vivem rodeados de comentários de alunos e são paraninfos no final de ano letivo. Adoram partilhar mensagens de Paulo Freire porque ainda estão no início da profissão e ainda acreditam que é possível fazer a sua parte no que diz respeito a educar. Estes caras só fazem lua de mel em um raio de 100 km (o que se tratando de Brasil é pouco), casam-se e vivem modestamente, mas sempre a reclamar do governo para aumentar o piso salarial. Estes caras acreditam ainda que se compartilharem um milhão de vezes isto acontecerá. São os revolucionários do giz, ou de sofá (em 24 prestações). 
E o outro tipo é assim...eu. Aqueles que fizeram a faculdade assim para inglês ver. Tem um diploma, mas trabalham de atendente de call center, ou concursado em um banco, ou com o pai em um negócio de família, ou de dançarina em Budapeste (é verdade!). No meu caso, tem a ver com casar e ser mãe e ter finalmente me encontrado no curso que queria e ter de abandoná-lo por motivos maiores. Enfim, acho que me desiludi porque a primeira coisa que escutei quando entrei na sala de aula, ainda excitada por ter passado em um concorrido vestibular foi: vocês não encontrarão as respostas aqui. Aqui nós só ajudamos a fazer as perguntas. WTF? Já não basta a vida ser assim? Descobri por mim alguns semestres mais tarde, que a história é produto da interpretação de quem a faz, e aquele que escreve sobre a segunda guerra no Brasil durante a ditadura vai imprimir seus juízos de valor (mesmo que inconscientemente) e a história será diferente não só porque é vista em momentos e lugares diferentes, mas também pelas singularidades de cada um que se debruçar sobre ela. Assim a guerra, trará "guerras" diferentes. Às vezes para mim, a história me pareceu uma grande fofoca de quem se deu ao trabalho de escrever e teve a sorte de que o tempo não destruísse seus apontamentos. Comecei a desconfiar das fontes. E assim azedou meu romance com a história, romance prematuro que tive de manter as aparências por 4 anos até pedir a separação de corpos. Ela saiu de mim, deixei tudo para ela, mas dizem que todas as histórias de amor deixam marcas e comigo não seria diferente. Só espero também lhe ter deixado algumas.

Porque quero...e porque quis

Noto que nesta blogosfera tenho sido um pouco eremita, às vezes até com muito orgulho. No entanto tal como na vida real, gosto de visitas (quando elas avisam antes), surpreendia-me a cada vez que via que o meu blogue tinha sido visto no Azerbaijão, ou na Inglaterra ou na China. Oh todos estes países querem saber o que uma lunática escreve? Não tontinha, a culpa é do google. Ou melhor, das imagens que eles lá pesquisam e pumba: o domingo mais chuvoso aparece. Mas tem uma coisa que sou realmente lida e ironia das ironias ocupa a segunda posição do google quando se digita: "porque quero ser mãe". Escrevi aquilo quando estava cansada de tanto desejar ser mãe e por questões financeiras não podia tentar um tratamento, que por questões do casamento anterior do marido, tinha-nos levado aquela situação de infertilidade. Sabe, na verdade nunca senti-me infértil, não o sou, tenho o corpo saudável de uma mulher da minha idade. Nem enxergava o marido assim, ele fez uma escolha, da qual não se arrependeu mesmo depois de um filho ter entrado nos nossos planos. Talvez por isto não tenha sentido aquela dor que lia muitas vezes. Senti sim foi revolta, não sei se a revolta de uma menina mimada que não tinha o seu desejo atendido a tempo e a horas, mas aquele desespero, não. A infertilidade para mim foi uma escolha. Se tivesse mudado de marido e casado com outro cara saudável como eu, provavelmente a gravidez ocorreria de forma natural. Claro que achei chato tantos exames, hormônios, não poder ter aquela gravidez surpresa que anda por aí. Mas sinceramente acho que se não fosse assim não daria valor, nem sei bem o quanto de valor. Mas segundo me conheço, seria ainda pior porque não consegui seguir à risca o que tinha pensado sobre a maternidade. É o meu fantasma que está lá sempre a balançar no armário. Não sei hoje porque as mulheres querem ser mãe, mas faço uma ideia. Não sei é hoje porque quis ser mãe. Eu amo meu menino, mas sendo sincera, por tudo que passei não tenho problema em admitir que se fosse um sonho e eu acordasse (tal como no filme do Nicolas Cage), não escolheria este caminho. Sou egoísta, sou imatura e novidade: ser mãe não me fez mudar isto. Não em questões proporcionais ao que esperava, talvez até esperasse demais de mim.  Continuo a querer ser eu, eu e eu. Continuo a querer um banho quente e solitário, continuo a chorar pelo meu corpo de antes, continuo a deixar que o pai assuma o meu papel muitas vezes. E não tenho uma solução na manga, há certas escolhas que se fazem em que é impossível voltar atrás.  

Então e o vestido?


Pois descobri uma coisa digna do Guinness Book: consegui praticar apneia por 1 hora e meia!! Yupiiii! (sim, sou daquelas que dizem Yupii ao invés de "weeeee"). Mas, sempre tem um "mas", não consegui mais com o aperto da gordurada toda e fui colocar um vestido rosa de algodão para passar a meia noite. O que só me fez pensar que aquela mulherada do espartilho sofreu para caramba. 
Entrei com amor, romance, o que seja...e não, não ganhamos na mega sena da virada. Já diziam que sorte no amor...
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