terça-feira, 2 de abril de 2013

Não entendo

Juro que não entendo a exposição exagerada que se dá aos ex BBB (participantes do programa Big Brother Brasil). São notícias de fulano na boate tal, de fulana a pintar os cabelos, a treinar na academia ou de biquini na praia. E como se não bastasse, entendo menos ainda os fãs dos BBBs, cara esta gente tem fã! Pedem para tirar foto e tudo, autógrafo, abanam quando reconhecem. O que estas pessoas tem demais? Nada, são zé ninguém como eu a viver seus 15 segundos de fama só porque expuseram sua intimidade para milhões de pessoas. Deve ser isto, eles viram suas bundas, sua ressaca, até o rebuliço no edredon, daí pensarem que estas pessoas merecem tal reconhecimento, são "heróis" como diria o apresentador Pedro Bial. E o povo acredita. Agora a pergunta, se são heróis, vieram salvar a gente de que?

Sacolé



Sua vida mudou quando viu a boca de Ana. Era uma moça bonita, bem feita de corpo, mas o que mais chamava sua atenção como um íman, era a boca. Conjunção de lábios roliços e rosados. A pele parecia de seda, mal ela lambia o lábio inferior, deixava um rastro de luxúria. Fazia de tudo para não encará-la. Era sua cunhada, a Ana, namorada de seu irmão mais novo, então com 24 anos.  Ele bem tentava, mas já dizia-se de que de boas intenções o inferno está cheio, e ele com certeza iria passar o resto da eternidade no calor da culpa. 
A Ana chegava e o suplício começava e, quando estavam à sós, era um descalabro. Suava. Escorriam gotas pela camisa, pelas orelhas. Ela não desconfiava. Mascava chiclete e fazia bolas enquanto folheava distraidamente uma revista de fofocas. Às vezes perguntava-lhe qualquer coisa e ele tinha de esforçar-se para recuperar o tom de voz e geralmente o que saía era algo mais parecido com um adolescente imberbe do que com um homem da sua idade, lá no meio dos trinta. Mexia nervosamente no smartphone à procura da ligação da mulher, alguma mensagem depressiva sobre não aturar mais os berros do bebê, ou um recado para passar na farmácia antes de ir para casa. O telefone tocou e não era o seu. A cunhada remexeu no bolso da calça e tirou de lá um objeto morno que gritava. Alô... Mascava. Os lábios róseos de morango cobertos de corante até a língua. Monosilábica. Ana só era assim no telefone. Desliga e lhe pousa o olhar enquanto devolve o aparelho para perto das nádegas. 
- É o seu irmão. Disse que ficou preso em uma apresentação na faculdade e pediu para você me dar uma carona. 
- Hum.
- Isto é um sim?
- Hum hum. Sim. Claro.
Ela levanta-se e deixa cair a revista. 
- Vamos?
Ele limpa o suor das têmporas e fecha a porta. Não sem antes checar mais uma vez por um sinal da mulher. Implorava, rezou a todos os santos para que houvesse uma luz, para que alguém lhe tirasse desta enrascada que se prolongava há dúzia de meses. A tela continuava muda. Assim como os santos. Resignado obedeceu um pouco daquela voz que lhe assumia lentamente o controle. Não olhe em hipótese nenhuma para ali. Use o espelho, use o trânsito, ligue o rádio. A cunhada estacou em uma janela.
- Peraí...
Ele viu impacientemente ela bater palmas e abrir a bolsa. Pergunto? Não pergunto? Debatia-se em uma timidez infantil. Passava a mão nos cabelos. Só queria chegar à casa são e fiel como sempre o fora. Olhar para a cara de olheiras da esposa e para seus lábios finos e contidos, atirar-se a eles comedidamente antes que o choro do bebê os separasse. Oh inferno esta Ana! Porq...
- Obrigada! Para você também. Tchau!
Olhou para o lado, mal podia acreditar. Pôs a mão nas ancas, suspirou quase assoviando. É isto né não, Deus, você que me foder! Você quer me ver fodido!
Ana abria a embalagem plástica e transparente devagar como quem apreciava aquele ritual. Ele ficou hipnotizado enquanto ela metia o cubo de gelo vermelho por entre os lábios apertados. Formava um botão de rosa ainda fechado. Não, era uma vulva. Vermelha. Escarlate. Que abria e fechava e chupava.
- Adoro sacolé!
Todo o percurso até o carro foi feito em silêncio da parte dele. O silêncio que era cortado pela sucção do líquido doce que deixava a sua boca levemente inchada e ainda mais rosada. Colocou o cinto, deu a partida sem olhar. Por sorte não vinha ninguém e ele lembrou-se do telefone na cavidade para este fim. Mudo. Sem rede? Não. Nenhum sinal da mulher.
Ana continuava, ele evitava olhar para os espelhos, não evitou foi uma saraivada de buzinas no trajeto de quinze minutos. A cada desvio, Ana segurava-se e perguntava se estava bem. Ele ria nervosamente, pedia desculpas para adiante cometer os mesmos erros. Piscas para o lado errado, sinal vermelho, ultrapassagem pela direita, se somassem os pontos ficaria um ano sem dirigir. Finalmente avistou a esquina do prédio do pai da cunhada. Ela  morava ali desde pequena, já havia lhe contado. Um edifício baixo, com algumas pastilhas em falta e sem elevador. Qual era o andar mesmo? O quarto. 
- Pode me deixar aqui. Obrigada.
Desviou-se com o resto do sacolé entre os dedos. Um beijo lhe calhou na metade dos lábios e ele sentiu o frescor de sua boca carnuda. E aquele beijo foi pior do que nada porque agora metade dele sabia o que era aquele colchão de carne que o irmão violava aparentando ser sem consentimento. Agora sabia e já havia sentido o gosto de suco de morango misturado à maciez de seus contornos arredondados como seus quadris. Era adúltero sem o querer, ou melhor , queria mas não planejava. A culpa sem o desfrute era pior do que o ato consumado.  Falhou. Sua língua invadiu, conquistando, evocando tudo que era ou devia ser dele. Ela a entregar-se em uma rendição de pouca luta, ao sexo que suas línguas selvagemente dançavam. Quando abriu os olhos, a cunhada já lhe acenava junto às grades do prédio, com um molho de chave a meter-se na bolsa. Realidade, sonho ou desejo? Nunca soube. Dizem que os olhos são as janelas da alma e ele nunca conseguiu olhar nos olhos da cunhada. E se são os olhos as janelas, os lábios são a porta que ela deixava entreaberta. E sentia que sua vida não seria mais a mesma desde que vira pela primeira vez a boca de Ana.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Desejo pós Páscoa

Que as chatas e exibidas de plantão engordem mais do que eu. Amém.

A desgraça é sua

Domingo à tarde é um carnaval de programa ruim. Pilota-se o controle remoto e temos o campeonato de futebol do Ceará, entrevistas com abobrinha, vídeo cassetadas, funk e o pior de todos para mim: o programa chore você também, no maior estilo veja a desgraça alheia. A única coisa que consigo sentir, é vergonha alheia enfim. Para começar escolhem a família que come todos os dias o pão que o diabo cuspiu depois de amassar. Debulham a vida das criaturas em um mar de lástimas em que o marido trabalha, a mulher cuida dos seis filhos, às vezes a comida é arroz com três ovos e a mãe deixa de comer para o marido ter força para o trabalho. Aham. Esta dieta não tá adiantando muito, fia. Que tu tá é bem gordinha. Ah e sempre há tv, roupas boas e até desconfio que o computador portátil é escondido às pressas na casa do vizinho. Sabe porque que não acredito em um pingo? É porque cada criança tem direito a uma bolsa por frequentar a escola (Lula não é?), tem direito a bolsa família e depois a mulher com muita saúde pode muito bem pegar um emprego de diarista ou coisa que o valha já que as crianças são todas maiorzinhas, acima de quatro anos. Mas não, é muito mais fácil choramingar e contar misérias. Depois, as igrejas tanto católicas, evangélicas quanto os centros espírita, oferecem sopa todos os fins de semana e cesta básica para este povo. É só levantar o rabo do sofá e ir em busca. Mas não é só: a música lamurienta de fundo, as crianças de olhos compridos, o close nas lágrimas das mulheres é algo assim para o inexplicável. Se era para sentir pena, sorry, que a minha vida também está uma merda duma novela mexicana e não tô aí para dar audiência para ninguém. Eu tenho é nojo e raiva desta gente. Para começar para que meu Deus por no mundo esta cambada de filho? O governo dá camisinha, dá anticoncepcional, dá injeção de hormônio, dá vasectomia e laqueadura de trompas. Se são pobres e não podem sustentar nem dois filhos porque botam lá mais quatro? Não é por si só uma atitude egoísta sabendo de antemão que não serão capazes de os criarem com dignidade? Ah esqueci, é que se criam com amor, não é assim que funciona? Toma lá Uélinton, duas conchas de amor para você.
Depois do canavial de desgraças, entra em cena o apresentador do programa e qual um gênio da lâmpada sai mandando um banho de loja, de salão de beleza e por fim, ganham uma casa mobiliada, um novo emprego para o marido e uma máquina de fralda para a mulher. Eles são tv de plasma de 42 polegadas, quartos com ar condicionado, jardim e cadeiras e mesas, cama queen size, sofá com recosto reclinável. É mole? 
Tudo assim de mão beijada, até que podia mandar uma carta para o gênio da Record. Vá que?...
Mas tenho cá para mim que pobre que é pobre não tem esta sorte.
Aí depois dizem que não consigo ver os outros felizes, não é verdade. Consigo e muito genuínamente por quem lutou e tá se esforçando por uma vida melhor, até penso que muitas coisas eu mesma não era capaz de fazer e admito e admiro esta força de vontade nos outros. Agora para isto é que não há mesmo paciência, é o que chamamos de desgraça que podia ser evitada, primeiro com anticoncepcionais e depois com trabalho e vontade de uma vida melhor. Mas o problema é que ainda existem estes programas que eu chamo de loteria dos pobres, isto perpetua o estado de sofá destas mulheres , esta esperança ínfima de que um dia possam lhes mudar a vida como um passe de mágica.
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