sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

"Há que endurecer, mas sem perder a ternura"...( e como é que se faz isto meu filho?)

Chegando ao fim a primeira semana de férias, não deixo de pensar que este país tem-nas em demasia. Afinal férias de inverno para quem não tem carro, em um lugar que não tem quase nada para fazer significa apenas ficar em casa dia após dia. Ontem mesmo me dei conta que se não saísse, ia completar uma semana sem por o nariz para fora de casa, lá reuni coragem e fomos na praça da Mairie. Às vezes sinto-me observadora da minha própria vida, eu sento em um banco sentindo aquele frio que me adormece os dedos e enquanto vejo ao longe o Fabian brincar, imagino-me longe, muito longe. Não sei ao certo o que procuro e qual o propósito de estar aqui, se é viver dias iguais, se é voltar a estudar, se é me dar um tempo. Por enquanto não sinto qualquer ódio em particular, sinto-me apenas a vagar através do tempo e tal como se fosse em um sonho, belisco-me, mas não tenho a certeza de que sinto mesmo a dor ou se esta é apenas uma construção da minha mente. De qualquer forma tudo tem de passar por lá mesmo, mas no fundo, eu sigo...distante...longe...dormente.... 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Bandido bom é bandido morto

Eu acho que devia ter uns oito anos quando soube que meu avô tinha sido assaltado. Foi no centro da cidade, tinha ido buscar um dinheiro (como naquela época existia o imposto por transferência bancária, muita gente preferia retirar e fazer o depósito com a quantia em mãos). Levou um pontapé, caiu e ninguém fez nada. No centro lotado, as pessoas simplesmente passaram e sequer ofereceram a mão para ele levantar. Lembro que senti muita raiva quando ele contou, eu queria trucidar quem tinha feito isto com o meu vô, mas como disse, eu tinha oito anos... 
Hoje, descendo os olhos sobre as notícias, pulam casos e mais casos de pessoas que fazem justiça com as próprias mãos, surram, amarram em postes, matam. Dizem elas que bandido bom é bandido morto. E este punhado de gente é obscenamente aplaudido por uma multidão descontente com este Brasil da copa, com a corrupção esparramada nos noticiários, com as verdades absolutas de filmes caseiros no youtube. Uma coisa que devíamos saber separar é o sentimento de raiva e impotência das vítimas  do revanchismo. A raiva é legítima, o último não e nem é preciso explicar porque. Qualquer pessoa em seu perfeito juízo vai saber que a pretensa ideia de "dar uma lição" não deixa de ser crime.
Os dedos estão apontados, acusadores, por uma gente branca, que tem faculdade, que viajou a Disney e conhece a torre Eiffel. E estes dedos acusam: a culpa é do Lula, é da Dilma! A culpa é do bolsa escola, a culpa é destes pobres que só sabem fazer filhos! A culpa por fim, é do próprio bandido que escolheu um caminho torto. Eu não sei se estas pessoas já tentaram por alguns minutos saírem da frente dos seus smartphones e das páginas da Veja... Mas a verdade é que o marginal que nos assalta é uma espécie de efeito cuja causa somos nós. 
Há um tempo atrás li uma reportagem sobre o porquê a taxa de violência em Luxemburgo ser tão baixa. Dizia o autor que a diferença entre abrir com tranquilidade o seu laptop no transporte público está em ganhar menos. O salário de um lixeiro para o de um gerente comercial são dois mil euros a menos em média. Aqui na França também podemos notar isto, mesmo que a diferença salarial seja maior. Nada é comparado com os menos de 700 reais de salário mínimo e os salários da classe média de oito mil reais, vinte ou trinta. Nem estou falando de gente riquíssima, de presidentes de empresas...estou falando de um salário que é perfeitamente possível de atingir (se você é da classe certa). 
Outra coisa que as pessoas não tem noção, é que a questão "escolha" que jogam para o criminoso é no mínimo ilusória. Ah, claro, ele pode ser honesto, eu sou honesta, não é difícil. Mas eu estudei em escola particular a vida toda, eu não tenho nenhum familiar toxicodependente, eu tenho uma família estruturada. Se as pessoas soubessem as histórias que fico sabendo de amigas professoras cujos alunos com dez anos se prostituem, que outros estão no tráfico pois só assim para ostentarem roupas de marca, que não há simplesmente ninguém que se interesse por eles... Que aos dez, onze anos são pequenos adultos que fazem escolhas de adultos, mas que no fundo tem a maturidade cronológica esperada para a idade. É fácil ser bom quando se é privilegiado, quando a violência é apenas no noticiário e não na nossa casa quando o pai bebe e sai distribuindo socos em quem alcançar. É fácil manter-se honesto quando as portas não se fecham pela cor da minha pele, quando tenho a oportunidade de terminar a faculdade e já emendar um mestrado. Pergunto-me se estas pessoas que reclamam  deste país corrupto e violento abririam mão de ganhar salários tão altos em nome de uma melhor distribuição de renda. Ou falar de impunidade, dar lições em moleques batedores de carteira e jogar a culpa em toda a corrupção que rola em Brasília é mais a cara delas? 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Avaliação escolar

Ontem veio a avaliação do Fabian para lermos e assinarmos embaixo. Muitas coisas não puderam ser pesadas porque ele não domina o francês. Mas apesar de estar em desvantagem com relação as outras crianças, vi aspectos positivos na parte de expressão artística, no respeito às regras (para comer, lavar as mãos, esperar o colega falar) e principalmente na atenção na hora da professora contar uma história. Já no Brasil tinham me falado disto: o Fabian é uma das crianças que mais gosta de estar parado a escutar um conto, neste caso, mesmo que não entenda muito bem. Diz a professora que ele responde as perguntas que ela faz sobre o livro, mas em português, o que já é um passo. 
Nós temos reforçado para que ele participe mais das aulas, que não tenha vergonha de falar, mesmo que ainda não se saia muito bem. Conosco ele diz algumas palavras em francês e inclusive canta as músicas que aprende na escola, mas eu sei, a criança que temos em casa é por vezes muito diferente da que a professora conhece. Ainda assim estou contente, acho que é um menino que já passou por muitas mudanças em tão pouco tempo de vida, portanto é só dar tempo ao tempo. 

O que é ser inteligente?

Tenho a plena consciência de que fui uma aluna mediana, não no que diz respeito à notas porque sempre tirei Bons e Muito Bons, mas notas boas para mim não é sinônimo de ser inteligente. As provas tão temidas eram apenas avaliações superficiais do conhecimento fresco ainda pela memorização. Afinal, olhando hoje para tudo o que me foi ensinado, questiono-me o que permaneceu e o que se "evaporou" da minha cabeça. Então se a inteligência fosse medida por notas, seria coerente pensar que agora eu já não possuo mais esta tal inteligência? Ela se foi com os anos e com o tempo? 
Para as ciências exatas era preciso calma, exercícios e prestar atenção na aula, só assim para alcançar um bom resultado. Mas nunca tive qualquer problema em educação artística, por exemplo, em criar histórias e fazer redações e interpretar textos e feições. Às vezes pergunto-me porque este tipo de habilidade não é tida como inteligência, porque a sociedade sobrevaloriza ser bom em matemática, química ou física quase como se fosse o selo oficial de um QI alto. Ninguém olha para um desenho bonito e pensa: nossa que criança inteligente! Mas olham ao contrário, para a boa nota de um teste sobre átomos e dão tapinhas nas costas dos filhos. E hoje, já adulta, imagino que nas provas da vida, podemos mais é enfiar estas notas no fiofó, porque de nada servem...e há tão poucos, mas tão poucos com a inteligência que esta nos cobra: a inteligência emocional... (Agora veio-me a lembrança da primeira vez que achei um livro no lixo: e o nome era exatamente este: A inteligência emocional. Arrependo-me até hoje de não o ter resgatado. Enfim.)
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