Pode parecer meio esnobe o que vou dizer, mas eu fico perplexa com gente que compra aqueles pacotes de quinze dias pela Europa e já sai dizendo com pompa: conheci a França, achei os franceses assim, assado! O sujeito passa dois dias em Paris e afirma que conhece a "França". Não, fio, você conheceu a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo (de dentro do ônibus de teto aberto porque provavelmente achou perda de tempo enfrentar mais uma fila para aquela vista mixuruca). Você conheceu o Louvre, digo, a Monalisa e consigo imaginar a sua decepção quando viu que era bem pequenininha e passou reto para a Vênus de Milo, olhando com desinteresse as milhares de obras no corredor. Você transformou uma visita de um dia (ou mais) em duas horas já contando com a fila homérica na entrada. Não, meu querido, você não conheceu a França, ou a Itália porque viu o Coliseu e andou de gôndola ou fez aquela clássica foto empurrando a Torre de Pisa. Você turisticou a França, Portugal, Inglaterra, whatever. Conhecer é uma palavra tão profunda para o que fazem, que acho mesmo que fazer turismo deveria se tornar um verbo.
Depois que fixamos morada em algum outro país, que acordamos dia após dia com o ranço e ao mesmo tempo a beleza de sermos emigrantes, que sentimos por vezes a "febre da ilha" que é a vontade insana de gritar "Puta que o pariu que que eu to fazendo aqui?! Quero voltar para a minha terra!!", podemos enfim dizer que "conhecemos" a França, os franceses, os americanos, etc. Obviamente que todo conhecimento é flutuante e sofre mudanças consoante o nosso humor e também conforme amadurecemos. O olhar sobre o outro, a tentativa de se desvendar a si próprio à medida que brincamos de antropólogos, são os ingredientes indispensáveis para uma certa apropriação deste conhecimento. Acho que no fundo, não vou parecer tão esnobe se estas mesmas pessoas tiverem um dia na situação de desconforto que é morar em outro lugar. Porque quando vamos de viagem e vimos coisas, visitamos monumentos, tiramos gigas de fotos e dormimos em uma cama fofa de hotel, estamos sim espairecendo, realizando um sonho talvez, mas voltamos para casa e continuamos quase exatamente como éramos antes de sairmos. Há quem escolha destinos mais exóticos e experimente um pouco deste estranhamento cultural, mas se for para ficar uma semana ou duas, é muito pouco para que realmente mexa conosco.
Quando nos dispomos a conhecer, no fundo passamos a saber mais de nós, porque não há conhecimento sem desconstrução, sem comparação, sem paciência e perseverança. Se vamos a lugares e não nos abrimos porque não dá tempo ou não dá jeito, estamos apenas conhecendo coisas inanimadas e fora de contexto e que por não fazerem muito sentido acabam até por desaparecerem da memória. Eu já turistiquei muito e tem tantas fotos que olho e não lembro que já estive ali... Vai ver que é porque nunca ali estive mesmo.