sábado, 28 de junho de 2014

Fóruns de mães? Não, obrigada.

Antes da internet como vocês faziam para passar vergonha? 


Não tenho mais saco para fóruns de puericultura. Ponto. Não é tanto porque me ache doutorada no assunto, longe disto, mas é que dá uma vergonha alheia inevitável. Aliás, vamos combinar que de alheia não tem nada, o problema é que me revejo em cada tópico, em cada verdade absoluta do "aqui faço isto e dá certo" como se todas as crianças fossem iguais. E depois, depois aquela coisa ridícula de achar que porque o filho sentou com cinco meses é o mais novo Einsten e andou com dez meses e com um ano já falava mais de cem palavras. Ta aí o novo Fernando Pessoa. E bateu palminhas e dançou feito uma macaquinha balançando as mãos para cima e a bunda, gente, é a nova Miley Cyrus! Se ainda parasse por aí, mas não, seguem... O meu filho já sabe o alfabeto com dois anos, ah o meu sabe contar até 20. E o teu já anda com bicicleta sem rodinhas? Tirou que nota em inglês no infantário? 
Mães... Mããães (repetir é bom porque nós já estamos tão acostumadas a ser chamadas trilhões de vezes ao dia que não viemos na primeira)! Eu sei que dói muito não escorregar para o exagero, mas a verdade é que o meu, o seu, o dos outros, tem 99,9% de chances de serem crianças normalíssimas. Que vão se destacar em alguma(s) área(s) como é óbvio, mas que vão ser uma grande porcaria em outras tantas, lembrando que isto são características de qualquer adulto com inteligência mediana. 
Mas pelo amor da Nossa Senhora das Mães de Primeira Viagem, não repitam com o segundo, o terceiro, o quarto. Quer dizer, eu ando no primeiro e já tive de abdicar de um monte de certezas em nome da minha sanidade mental. E eu fico imaginando as vezes que as mães mais experientes leram aqueles absurdos e reviraram os olhos à frente do computador. Porque há as dúvidas legítimas, mas que na maioria das vezes carecem de resposta com conhecimento mais profundo e, por esta razão, mereciam ver a luz no consultório do pediatra. Depois há aquelas do estilo "meu bebê não arrota", "meu filho cospe a sopa", "meu bebê de um ano não aceita o penico" (já vi isto por incrível que pareça). E por fim há todo um desfile de egos inflados que mais parecem aquela parada do final do dia na Disney, com a fada Sininho abanando lá de cima, o Woody, o Buzz (para o infinito e além!) e oh, as princesas... todas as mais lindas, mais delicadas e melhores filhas do mundo. Eu acho sinceramente que o que está por trás disto nem é a criança em si, mas as próprias progenitoras a almejarem o reflexo dos holofotes por tabela. Porque se há um novo superdotado na família, a culpa é dos genes ou da educação/estimulação compulsiva que lhes deram. Mas isto é como meu avô muito dizia: é muito cacique para pouco índio. Vá lá que pelo menos uma delas esteja com a razão. 

Já vou dizendo que a culpa foi toda minha


Poucas coisas marcam mais uma pessoa do que uma experiência de quase morte. Tive-a eu quando andava pelos nove anos, e olhando para trás, foi tão bobo que nem sei como aconteceu. Estávamos eu e uma amiga em uma piscina daquelas que dão pé nas extremidades, mas que vão se aprofundando aos poucos até chegar perto dos dois metros no meio. A minha amiga usava bóias nos braços aos sete anos e eu achei boa ideia lhe ensinar a nadar, nem que fosse cachorrinho. Depois andamos a brincar, ela agarrada nas minhas costas enquanto eu pulava dentro da área que a água me batia ao peito. Isto foi até o meu pé escorregar centímetros a dentro da rampa da piscina. A minha amiga em pânico, rapidamente agarrou-se ao meu pescoço e me empurrou para baixo. É impressionante como o cérebro em milésimos de segundos nos dá uma pronta decisão. Eu embaixo d'água pensei: calma, isto é fácil, estou mesmo na borda, é só me agarrar e puxar a B. e estamos salvas. O problema foi ela desesperadamente agarrada aos meus ombros, não me deixando espaço para nenhuma manobra. E a filha da boa senhora ainda quando estava com a cabeça de fora não gritava por socorro. Coube a mim esta tarefa, e aí sim já estava agoniada o bastante, completamente desesperada a lutar por uma golfada de ar e ao mesmo tempo chamar a atenção. Não sei quanto tempo durou, porque quando estamos à beira da morte o tempo deixa de fazer sentido. Lembro-me de pensar aos nove anos de idade que eu ia mesmo morrer e que ia ser tão ridículo morrer com o braço quase a alcançar a borda que até era bem feito pela minha teimosia. 
O final da história não é surpresa, senão nem estaria aqui. Meu padrinho e mais um homem se jogaram e nos tiraram da água. Isto para dizer que nunca, mas nunquinha mesmo nós sabemos como vamos reagir a uma experiência de risco de vida. Vejo gente que julga e desmerece pessoas que reagem a assaltos, por exemplo, quando já estamos carecas de saber que não se deve fazer nada, ou gente que fica parado quando outro cai nos trilhos do trem, etc. Para mim há dois tipos de pessoas: as que agem e as que se deixam afundar pelo desespero. E volto a dizer, não há maneira de saber qual tipo somos senão o fato de estarmos à mercê de nossos instintos. 
Felizmente não desenvolvi fobia a água, no entanto toda a vez que vejo cenas de afogamento em filmes, dá-me um nó na garganta, meu coração acelera e vejo-me agoniada sem perceber que fico a prender a respiração. Meu corpo revive automaticamente como se tivesse sido ontem e quase me vejo a balançar os braços e a submergir com metade dos gritos a morrerem em minha garganta. Ar...ar...ar...Um suspiro fundo traz-me à tona os instantes necessários antes de sufocar os dedos do marido.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Fora de moda

Às vezes me sinto uma roupa atirada no roupeiro, mal dobrada, mal passada à espera de dias melhores. Não me sirvo mais, estou puída e tenho bolinhas de muito uso. Algumas manchas de gordura e chocolate que nem o vanish conseguiu tirar. Às vezes me pego e me olho em um misto de desdém e tristeza. Já não me ponho mais à frente do espelho para ver quantos centímetros me sobram para fora. Às vezes acho que desisti de mim. E só me guardo no fundo da prateleira, embolada com as roupas da outra estação, à espera da coragem em alguma campanha de agasalho. Que eu sei que vou me enrolar o bastante para me deixar ficar até sucumbir de traças, ou de pó. Às vezes eu me sinto assim...démodé. 

quarta-feira, 25 de junho de 2014

O que aprendi com as francesas ou a política da mini saia

Comecei observando a auxiliar da professora do meu filho que no alto dos seus sessenta e lá vai muitos, ostentava uma mini saia em pleno ambiente de trabalho. Aquela cena chocou-me a princípio por uma série de razões: foram anos de códigos de como se vestir das senhoras coquetas da moda jogados ao lixo. Não é só a mini saia usada em local de trabalho (que é muito comum aqui), ou a idade da senhora que  fazia todas as regras de elegância dentro de mim gritarem que não podia ser, que me incomodavam. Não, era outra coisa. E voltei a olhar para a rua o olhar seguro e despreocupado das moças a andarem de bicicleta, isto mesmo, de mini ou micro saia. Elas não estavam preocupadas se a calcinha ia aparecer porque simplesmente ninguém olha para ver qual a cor delas. Elas não ouvem a cada esquina um grito de "gostosa", "lambia-te toda", nem buzinas e homens diminuindo a velocidade dos carros e fazendo menções de gestos masturbatórios (quanto menos a fazê-los de fato). Para mim havia qualquer coisa de obsceno na liberdade de poder vestir o que quiser sem pagar um alto preço por isto.
Uns tempos atrás houve um movimento muito forte no Brasil sobre o não merecer ser estuprada, mas a verdade é que mesmo as pessoas concordando que a vítima não tem culpa de nada, seguimos com a cultura de que o corpo da mulher é público, passível de ser julgado e classificado, tanto em revistas como na rua. E ainda é muito comum a ideia de que se queremos evitar este assédio, temos de ser nós a mudar, a nos encolher, nos vestir com roupas mais discretas, mascaradas muitas vezes de "elegantes". Porque se não seguirmos este dress code da segurança, estamos consentindo com cantadas e abusos de toda ordem.
Há quase um ano aqui, as francesas me ensinaram uma série de coisas importantes. Primeiro,  mulheres francesas não se vestem para os homens, porque eles simplesmente não olham, muito menos torcem pescoços e ainda menos dizem piadinhas. E não o fazem porque estes comportamentos são considerados ridículos e mal educados.  Além disto, a roupa curta que por ventura usem, não possui caráter de fetiche, que é o mesmo que dizer que usar mini saia não é sinônimo de estar à cata de homem. Por isto não é nenhum Deus nos acuda ela ser considerada uma peça de vestuário de trabalho tão válida como qualquer outra.
 A política da mini saia, com seus contornos democráticos é nova ainda para mim, acostumada a dicotomia entre freira e puta, curto e longo, à mostra e escondido. Mas me sinto confortável ao ver que escolha o que escolher,  ninguém parece se importar com a cor da minha alma. E muito menos das minhas calcinhas.

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