segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Não posso morrer sem ver






                                                                    Positano - Itália

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Passeio de francês



Quarta feira passada o Fabian teve um passeio na escola, o primeiro deste ano letivo. A mãe aqui, escreveu o nome dizendo-se disponível todos os dias, assim como fiz no outro ano. Quando a professora chamou para ajudar a cuidar das crianças, imaginei que ia ser moleza como nas duas vezes em que o fiz, a prefeitura liberaria o ônibus que iria nos levar e buscar na porta da escola. Ledo engano. Segunda veio um bilhete para casa avisando-nos para comprar passagens de ida e volta para o tram. Fiquei responsável por quatro alunos, incluindo o meu filho, todo o caminho à pé até a estação (uns 10 minutos), no tram, na descida, no outro tram e finalmente na caminhada 15 minutos até o museu de arte moderna. 
No Brasil há uma expressão para isto: chama-se passeio de índio. Imagino que porque andar no mato seja algo ao mesmo tempo sem atrativo e perigoso. Achei que a professora não foi minimamente feliz em propor esta atividade, primeiro pelo trajeto que levamos boa parte do curto turno de três horas. Depois, pelo lugar. Pelamordedeus, museu de arte moderna?? Se eu tinha que me conter a cada minuto para não bocejar, como esperar que crianças de quatro a cinco anos achem aquilo interessante a ponto de ficarem quietas e prestarem atenção? Se ainda fosse um museu de arte com uma seção voltada ao público infantil ou com obras mais apelativas, mas não...colocaram-nas meia hora a olhar dois quadros acizentados de baixo relevo. Depois a ver um vídeo em que cães da raça weimaraner faziam coisas como se fossem humanos, com mãos humanas, mas com uma espécie de esqueleto de roupas à frente. No fim, a mocinha bem intencionada que os guiava, lhes propusera uma crítica às histórias infantis cujos personagens imitam nossos dramas de todo dia. Não sei se foi só eu que reparei, mas acho que a única coisa que realmente crianças daquela faixa etária poderiam aproveitar era o desenho com confetes, que pelo tempo, não deu para fazerem. 
Sem lanche nem água a manhã toda e com a volta tendo que descer duas estações antes e caminhar pelo atraso do tram, este passeio alcançou outro nível de chatice. Passeio de índio que nada, ida a  um museu, ainda mais museu de arte moderna, foi passeio de francês mesmo. 

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Descobri



Pessoas que vem ao meu blog e descobrem que eu tenho um problema. E eu achando que não era a única, mas vai se a ver eu sou. Tenho um "problema", tenho defeitos e muitos. mas será que sou pior apenas porque falo deles, que os enxergo e admito ou deveria ser como estas pessoas que (fingem que) não tem problema nenhum? 
Acho que falta muita interpretação, ou boa vontade ou honestidade intelectual. Uso este espaço para desabafar, sempre o fiz. Mas podia ter feito diferente, podia. Podia ter criado um blog cor-de-rosa, um personagem disney que acorda e os passarinhos a ajudam a se vestir, que espera o príncipe encantado chegar com o sapato de cristal. Ao invés disto, escolhi desnudar-me, deixei cair pedaços de mim em palavras soltas aqui e ali. Palavras por vezes soltas em horas de raiva, de desespero, de medo ou solidão. Palavras felizes e saltitantes, de escárnio, de ciúme, de amizade. 
Eu não sou uma só, nem tampouco caibo em uma folha de papel virtual. Para falar a verdade, eu nem caibo em mim mesma... mas uma coisa é certa: alguém sempre deixa um pouco de si no que leu por aqui.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Parede indiscreta



Não tem aquele filme Janela Indiscreta em que um cara fica observando os vizinhos até que presencia um assassinato? Pois é. Estava eu aqui bem bela na noite de sábado, já me preparando para assistir um filme, quando escuto vozes exaltadas vindo sei lá de onde. Levanto-me e o primeiro pensamento correu pela janela. Moro em um lugar extremamente calmo e se não fosse pela lanchonete árabe do outro lado da rua, mal se ouviria barulho de carro depois das oito da noite. No entanto, lá estavam os gritos a invadirem minha casa. Abri discretamente o vidro e espiei pelo friso que a janela de madeira permite. Nada, um silêncio só. Tal e qual um cão farejador, põem-se toda e qualquer fofoqueira que se preze, a captar a trilha que levará até vozes abafadas. Não demorei muito para dar com o ouvido na parede crespa do hall de entrada. Eram os meus vizinhos franceses que ao invés que lavarem roupa suja na casa deles, resolveram fazê-lo na escada. E a escada dá para o meu hall. Literalmente não fui eu quem procurei o babado, ele é que veio atrás de mim, entrou pela sala e me convidou a segui-lo. 
Eu nunca tinha escutado a voz da vizinha, a não ser quando ela gemeu e chamou a Deus, sacudindo os móveis certa noite. Mas de verdade que eu não lembrava da voz da alemoa e mesmo que lembrasse, penso que em nada se assemelharia àqueles gritos desvairados, ao choro e aos tapas que, acredito, encontraram qualquer parte do marido rechonchudo. 
E o que mais me intrigava era: o que diabos esta mulher fez com a pessoa calma e polida que eu conhecia de vista? Só escutava uns "merde" "tu es insupportable", "faz onze meses que eu não durmo", esta palavra se repetia já que o casal tem um filho de precisamente onze meses. "Je n'arrive pas à dormir" e bla bla bla, que o presente de aniversário foi uma merda, "nussa", que será que o homem lhe deu? Um aspirador de pó automático? 
Os gritos continuavam cada vez mais altos, enquanto que a voz do homem irritado, porém com algum controle arranjava ora desculpas, ora acusações. E lembrei-me que já não estava traduzindo nada, apenas pensava na possibilidade de ter de ser testemunha de um crime passional, meu Deus, esta mulher vai realmente matar este homem! 
Ficaram ainda meia hora a discutir, até que os ânimos se aquietaram e pude finalmente ver o meu filme com certa melancolia de não estar tão bem no francês como eu julgava. Minhas habilidades estão assim: entender o que o interlocutor fala (check); compreender desenhos animados (check), falar coisas básicas como "onde-fica-o-banheiro" (check); desvendar as discussões dos vizinhos por uma parede grossa com gritos e soluços pelo caminho (no). 
Pelo menos deu para reparar que apesar de toda a politesse, quando o negócio tem que descambar, descamba. A francesa rodou a baiana e lavou a escadaria do Bom Fim de um modo que eu jamais imaginaria. E depois nós os latinos é que levamos a fama!

Web Statistics