quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Hoje até um limão ta mais doce do que eu



Feliz ano novo é o caralho! Não quero desejar nem quero ouvir "que tudo se realize no ano que vai nascer". Estou do contra. Sozinha. Ninguém devia ter que passar assim vendo os outros se divertir, postar fotos felizes da família reunida, ou dos amigos reunidos levantando garrafas de vodka. Sorte é saber que uma boa parte disso é encenação. Ano passado já foi ruim com o marido chegando às onze da noite, somados aos pães de queijo mal cozidos e ainda à pizza congelada comprada no mercadinho árabe que não salvou nossa pseudo ceia. Mas este ano nos superamos de verdade. Merda. Quando é que esta sina de estarmos sempre separados vai terminar? Esta vida cigana?
Azar: porque só para variar em 2016 não vai pegar noutros pés? Esquece um pouco de nos, é só isto que desejo à meia noite. 
(se quiser, posso dar umas dicas onde pode encontrar umas pessoas supimpas para atazanar)!

Tenho uma leve impressão que 2015 tentou me matar...




em 2016 vou contratar um dublê.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Põe, mas só a cabecinha

Foi engraçado ver a cara de surpresa quando eu disse na aula que não, sinto informá-los mas o Brasil não é este "olê olê"* que vocês pensavam. Ohh, mas como assim? Quer dizer, quando eu falo que sou brasileira tenho a impressão que junto com o sorriso, a pessoa ta imaginando que em casa tenho uma fantasia com plumas e que passo o aspirador de fio dental enquanto sambo. Mesmo para alguém mais instruído, é difícil explicar que a nossa relação com a sacanagem é um paradoxo. Para isto é preciso lembrar que antes das invasões portuguesas e espanholas, os nativos tinham o sexo como uma coisa natural e isto só mudou com a imposição do catolicismo. Somos uma cultura plural, mas com um denominador comum: o Brasil é um país extremamente crente e ainda encara o sexo de uma forma fetichista. Acho, por exemplo, que uma francesa é muito mais livre de expressar sua sexualidade do que uma brasileira, e isto deve-se porque a primeira mora em um país com menos interferência religiosa e machista do que a outra. Foram necessários séculos para que as francesas pudessem usufruir deste direito e infelizmente as minhas compatriotas ainda tem um caminho longo pela frente.
As brasileiras ainda se revolvem na dicotomia santa e puta, onde puta é a mulher que tem sexo com quem quiser e com a frequência que quiser e santa é aquela que faz tudo isto, mas na surdina. Os gringos olham as passistas semi-nuas e fazem um filme erótico em suas cabeças, acreditam que lidamos bem com a nossa sexualidade tão e simplesmente porque a expomos. O Brasil não é para principiantes, já dizia Tom Jobim. O corpo que está descoberto pode muito bem abrigar o pudor e isto não se trata apenas um jogo de palavras, pois sabemos que ao contrario do que pensavam, há pecado debaixo da linha do Equador.  
Depois de um tempo comecei a pegar implicância com uma música que dizia "nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda". Afinal se a idéia é combater os estereótipos e moralismos, faz sentido ao invés de questioná-los, darmos mais força apenas nos deixando de fora? Tipo nem todo baiano é preguiçoso, nem todo alemão é nazista, nem todo pobre é ladrão? Coisa mais tosca. 
A sexualidade brasileira é como aquela historia de pôr só a cabecinha, é a vitrine do proibido passando em horários familiares, inclusive em programas infantis. A malícia convivendo inocentemente em trocadilhos como aquele jogado ao casal que namorava pelo atendente da lanchonete: vai comer aqui ou quer que embrulhe para viagem?
 Ademais, o brasileiro é um libertino extremamente conservador. Existe uma lógica que só quem nasceu lá consegue entender: pau que nasce torto nunca se endireita, menina que requebra,  a mãe pega na cabeça. É francesada, não esqueçam de segurar o tchan, e amarrar o tchan quando pensarem que o Brasil é um país bem resolvido sexualmente, quando na verdade andamos mais pela adolescência punheteira, morrendo de medo que nos cresçam pêlos nas mãos.





* Olé olé; Expressão francesa para a nossa boa e velha sacanagem



Um abraço para quem leu cantando rsrsrsrs

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