Ele suspirou
e em um movimento brusco puxou as calças. Então olhou para as ancas da mulher
enquanto ela rodopiava e rebolava para caber em um jeans justíssimo. Os cabelos
grudados nas costas nuas lembravam rios negros descendo sobre a cintura fina de
quem ainda não tivera filhos. Foi quando sua voz saiu rouca por entre o algodão
da blusa.
- Acho que devia se separar. Não sei como você suporta tudo isto.
- Isto o que? - disse subitamente já lembrando do que perguntara.
- Isto...viver assim sem sexo. Quantos meses...oito?
Ele sacudiu
a cabeça. - Sete meses. Eu sei, se está difícil para você nós podemos continuar
só amigos, não há problema nenhum.
Ela virou-se
devagar enquanto penteava os cabelos com os dedos. E disse em um suspiro que
não, que não suportava vê-lo naquela situação. E que eram amigos e aquilo era
apenas mais uma demonstração de carinho que podia haver entre eles,
amigos há alguns anos. Ela olhou para o relógio no canto da cama e colocou a
sandália de salto. Sentiu que os olhos dele estavam postos em seus dedos enquanto
ela passava as cordas pelo tornozelo. De repente estava pronta e ele deu-se
conta de que estava com o tronco nu e ainda sem sapatos.
- Acha que ainda ama ela?
Ele era todo
silencio. Um suspiro e vestiu a camisa, apertou os botões a cada respiração
prolongada pela agonia de lhe responder.
- Eu não
sei. Acho que a certa altura nos acostumamos com o outro. E depois tem o
menino. A fisioterapia... O ar escorregou pesado pelas narinas. E...bem, já
estamos na hora. Deu uma sacudida nos cabelos grisalhos e abriu a porta. Pagou
o motel como era de costume e largou-a na esquina da rua em que ela morava.
Embaixo de uma árvore, discretamente trocaram um beijo no rosto.
- O que você vai dizer a ela desta vez?
- Não sei...vou dizer que era domingo e que choveu.
Ela jogou os
cabelos para trás e sorriu delicada.
- E quer saber, vou torcer para que chova novamente.
- Quem sabe?
Ficou a ver a silhueta da jovem ficar pequena até desaparecer na esquina. Ficou
olhando para o jeito que a cintura mexia-se e para o traseiro redondo que havia
apertado no êxtase naquele quarto. E sorriu amargamente, porque ela sequer
imaginava que ainda naquela noite faria amor com sua mulher, que seu casamento
era feliz, aparentemente. Sequer imaginava porque era nova demais para
saber das mentiras que os homens contam. Mesmo para suas melhores amigas. E
filosofou que quando descobrisse provavelmente não mais lhe falaria e então
ficaria como aquelas mulheres amargas depois dos trinta. Deu a partida no carro
e sorriu. Saberia aproveitar enquanto pudesse. E nos seus olhos fugiu uma gota.
Não chorava, era apenas o seu reflexo no espelho retrovisor. E não é que ficava
mais sensível nestes domingos de chuva? Ou pelo menos gostava de pensar que
sim.
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