sábado, 22 de setembro de 2012

Alegria e inveja

Eu não sei, mas quanto a mim posso dizer que dificilmente senti/sinto alegria sincera por alguém. Tenho que gostar muito da pessoa para isto. Veja bem, quantas pessoas estão ao nosso lado quando estamos para baixo e quantas realmente se sentem felizes quando estamos bem? Certo dia li em uma pesquisa sobre isto. Os entrevistados em sua maioria escolheram ganhar menos sendo que todos os seus amigos ganhariam ainda menos que eles do que ganhar o dobro do salário sabendo que os seus amigos ganhavm todos eles mais. Isto é realmente interessante porque o ser humano é extremamente competitivo ainda na modernidade, embora a sociedade nos faça ocultar tais pensamentos, julgando-os feios demais para serem aceitos. 
Quando alguém consegue algo, geralmente tem necessidade de contar para o mundo, seja um carro novo ou um emprego, um aumento, enfim...parece até que a pessoa "quer" ser invejada. E se for conhecido, amigo, parente, lá temos que dar vivas e sorrisos e parabéns quando na verdade, bem ao fundo temos inveja. Ou porque fulana emagreceu, ou porque teve filho, ou porque foi a uma lua-de-mel justamente aonde tanto sonhamos. Só sinto-me satisfeita com a vitória de alguém que "julgo" que merece, com alguém sofrido, que sua história seja daquelas mais marcada que novela mexicana. E acho que não estou só...reparem bem naqueles programas de reality show, no querido mudei a casa, nos americanos reconstrução total e todo e qualquer apresentador que vem mudar a vida de uma família cheia de misérias e chororôs. Se fosse alguém comum lá com suas lutas e dificuldades ordinárias ninguém veria, antes sentiriam-se ultrajados. Porque não eu? Porque ele tem mais que eu? E porque ainda é modaserfilantrópico, dizer o que acha que ficaria bonito, lá escondo o azedo da inveja, porque bem lá no fundo sinto raiva de não ter me dedicado como deveria, tenho raiva da minha preguiça, talvez muito mais do que inveja. E tenho raiva porque é isto mesmo que as pessoas querem que sinta. E por outro lado fico satisfeita por lá ter iluminado um pouco da minha escuridão. E fico satisfeita porque ao reconhecer estes pensamentos posso ser mais eu. E quem sabe um dia sentirei alegria sincera por mim.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Aceitar que a dor faz parte


  1. E quando carregamos um pouquinho mais de juízo nas costas, percebemos que tudo na vida é agridoce. Tem um senão. Não há felicidade que perdure, não há vitória sem sacrifícios e sem um bocado de dor pelo caminho. Dá alento pensar em finais felizes depois da aposentadoria ou da quitação de uma casa. Depois dos filhos formados e encaminhados, depois da plástica nos seios, depois daquela calça de antes da gravidez fechar o último botão sem que seja preciso uma novena e um milagre. E quando se chega em uma determinada idade paramos de sonhar com isto e a certeza da imperfeição da vida, da nossa ineficiência em sermos satisfeitos toma uma sensação de alivio. Ufa, só precisamos aceitar para as coisas voltarem a fazer sentido. Só precisamos de um pouco de complacência com esta criança amuada que habita em cada um de nós. "Só" precisamos do resto da vida para exercitar esta constatação.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Domingo de chuva



Ele suspirou e em um movimento brusco puxou as calças. Então olhou para as ancas da mulher enquanto ela rodopiava e rebolava para caber em um jeans justíssimo. Os cabelos grudados nas costas nuas lembravam rios negros descendo sobre a cintura fina de quem ainda não tivera filhos. Foi quando sua voz saiu rouca por entre o algodão da blusa.
- Acho que devia se separar. Não sei como você suporta tudo isto.
- Isto o que? - disse subitamente já lembrando do que perguntara.
- Isto...viver assim sem sexo. Quantos meses...oito?
Ele sacudiu a cabeça. - Sete meses. Eu sei, se está difícil para você nós podemos continuar só amigos, não há problema nenhum. 
Ela virou-se devagar enquanto penteava os cabelos com os dedos. E disse em um suspiro que não, que não suportava vê-lo naquela situação. E que eram amigos e aquilo era apenas mais uma demonstração de carinho que  podia haver entre eles, amigos há alguns anos. Ela olhou para o relógio no canto da cama e colocou a sandália de salto. Sentiu que os olhos dele estavam postos em seus dedos enquanto ela passava as cordas pelo tornozelo. De repente estava pronta e ele deu-se conta de que estava com o tronco nu e ainda sem sapatos. 
- Acha que ainda ama ela?
Ele era todo silencio. Um suspiro e vestiu a camisa, apertou os botões a cada respiração prolongada pela agonia de lhe responder. 
- Eu não sei. Acho que a certa altura nos acostumamos com o outro. E depois tem o menino. A fisioterapia... O ar escorregou pesado pelas narinas. E...bem, já estamos na hora. Deu uma sacudida nos cabelos grisalhos e abriu a porta. Pagou o motel como era de costume e largou-a na esquina da rua em que ela morava. Embaixo de uma árvore, discretamente trocaram um beijo no rosto. 
- O que você vai dizer a ela desta vez?
- Não sei...vou dizer que era domingo e que choveu.
Ela jogou os cabelos para trás e sorriu delicada.
- E quer saber, vou torcer para que chova novamente. 
- Quem sabe?
Ficou a ver a silhueta da jovem ficar pequena até desaparecer na esquina. Ficou olhando para o jeito que a cintura mexia-se e para o traseiro redondo que havia apertado no êxtase naquele quarto. E sorriu amargamente, porque ela sequer imaginava que ainda naquela noite faria amor com sua mulher, que seu casamento era feliz, aparentemente. Sequer imaginava porque era  nova demais para saber das mentiras que os homens contam. Mesmo para suas melhores amigas. E filosofou que quando descobrisse provavelmente não mais lhe falaria e então ficaria como aquelas mulheres amargas depois dos trinta. Deu a partida no carro e sorriu. Saberia aproveitar enquanto pudesse. E nos seus olhos fugiu uma gota. Não chorava, era apenas o seu reflexo no espelho retrovisor. E não é que ficava mais sensível nestes domingos de chuva? Ou pelo menos gostava de pensar que sim.

sábado, 15 de setembro de 2012

Seguro contra filhos

Existe seguro contra acidentes naturais, existe seguro contra incêndio, contra acidentes de carro, existe seguro de vida, agora nunca ninguém pensou em fazer um seguro contra filhos? Talvez porque dificilmente fosse rentável. Mas pensa bem, quando tudo corre mal, quando já não se suporta mais "mãe, mãiiii, mãe (sacudindo e puxando sua blusa) , mmmãee... ohh MÃE!"? E de repente surge à sua frente uma equipe de massagistas e você dá-se conta que já não ouve nada mais, tudo ficou para trás como se estivesse em uma bolha. E uma viagem uma vez ao ano e um dia de dondoca uma vez ao mês e um jantar a dois uma vez por semana e uma noite de namoro com as crianças devidamente adormecidas e vigiadas pela super nanny.E tudo isto e muito mais: a sua garantia de que não vai enlouquecer aos berros quando o pequeno faz uma birra no mercado e que não darão mais de 10 anos sobre a sua idade. E nem terá orelhas eternas, nem culotes a mais. E garantimos que não terá de descontar nos doces, nem se contentará em lamentar a sorte da vizinha (que aparentemente tem os filhos mais educados do mundo). Isto seria bom demais para ser verdade, mas que faria muita mãe feliz, disto não tenho dúvidas...
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