Fiquei muito chateada com o que aconteceu a pouco aqui na rua. Um rapaz provavelmente drogado, porque suas atitudes não eram de uma pessoa "normal", gritando e batendo numa moça que chorava. Não sei se namorada ou irmã. Sinto muito mas é muito complicado se meter em uma coisa assim, muitas vezes a própria vítima fica a favor do agressor. Tenho pena, mas não consigo imaginar-me em uma situação desta. Comigo era um pontapé no saco e té logo amor.
quarta-feira, 13 de março de 2013
Todas as cidades tem seus podres
No século 19, quando Porto Alegre ainda tinha a volta de 20 mil habitantes, descobriu-se dois corpos degolados em um poço. Eram de um comerciante português e o seu caixeiro, ademais havia também o do cachorro deste último e foi por causa do animal que se teve a certeza da identidade dos corpos. O acusado foi um ex-policial, filho de português e uma índia, um homem corpulento e afastado do ofício por episódios de extrema violência. Chamava-se José Ramos e junto a ele, foi presa sua companheira, Catarina Palse, acusada de ser cúmplice dos crimes. No entanto isto era apenas o começo...
Catarina era Húngara, mas descendia de alemães, ainda com 12 anos fora estuprada por vários soldados russos a propósito da Revolução Húngara, deixada inconsciente, talvez dada como morta. Toda sua família fora assassinada nesta ocasião. Catarina casou-se aos 15 com um cardador de lã e cinco anos depois, emigraram para o Brasil. No meio da viagem, o marido suicidou-se, assim, chegou sozinha na Província de São Pedro. Dois anos depois conheceu José que também tinha sua cota de tragédia. O luso-brasileiro matou o pai aos 15 anos, quando tentava defender a mãe das investidas constantes quando este bebia. Era razoavelmente instruído, amava as artes e fazia questão de frequentar todas as noites o Theatro São Pedro. José falava alemão e assim começou a amizade com o açougueiro Carlos Claussner, um solitário imigrante alemão que lhe tomou como aprendiz de sua profissão.
Quando se conheceram, Catarina e José não demoraram muito para viverem juntos. Quando a polícia investigou a casa deles, descobriu a ossada do açougueiro, a que o criminoso havia dito que tinha lhe vendido o açougue e partido para sua terra natal. Ainda encontraram diversos objetos que não pertenciam ao casal em questão. A mulher foi a que mais cooperou durante os interrogatórios, contando inclusive, que houve mais 6 vítimas, todas descendentes de alemães e viajantes. O marido usava a beleza da mulher para atrair os homens e depois os degolava. Não satisfeito, da carne fizera as linguiças mais saborosas e adocicadas que a cidade conhecia. Eram famosas suas linguiças. Assim, José fez com que todos cometessem um dos maiores crimes de forma inconsciente: o canibalismo. Durante muito tempo pensou-se que se tratava de uma lenda urbana, no entanto, o historiador Décio Freitas, conseguiu uma série de documentos que comprovam os fatos. José Ramos foi até então o mais célebre assassino desta cidade e seus delitos foram conhecidos como os crimes da rua do Arvoredo. Li um romance daqueles de devorar em um dia, chamado Canibais de David Coimbra, baseado no livro O maior crime da Terra, do historiador. No romance, José Ramos tem uma espécie de tara sexual, em que curte todos os detalhes de sedução da esposa. No quarto há um orifício no qual delicia-se a ver o desconhecido lhe comer a mulher e depois de satisfeitos, Catarina convida a futura vítima para um café. Após empanturrar-se de bolos, ela puxa uma alavanca e a cadeira faz o homem despencar para um porão, lá encontrava a última face da morte: José e seu machado.
links interessantes:
A volta
A cidade tem pressa de ir embora. Buzinas ricocheteiam para todos os lados.
Da janela embaciada do ônibus, podemos ver o reflexo do cansaço gravado nos
passageiros em pé. Em uma fresta, passam um mar de guarda-chuvas ondulando no
meio dos carros. Parecem medusas a recolherem-se e tomarem impulso a cada
brecha entre um para-choque e outro. Há vermelho em cada lugar: no semáforo,
nas luzes dos carros. Parar, esperar e angustiar ante mais buzinas. A chuva gosta
de dançar enquanto todos se esquivam. A chuva é uma bailarina inoportuna,
rodopia entre os vidros e a impaciência das pessoas, a qual finge não ver. A
chuva veio para ficar. Desço e caminho pelas ruas do passado. A calçada
é quase portuguesa, não fosse o vermelho das pedras escorregadias. Alguém grita
se quero “gá-da-chuva” ou “sombrin”, não me dou ao trabalho de responder, vou
certa da minha solidão. Ando pelas ruas escuras, atravesso lugares que passava quando
ainda era uma jovem estudante de História, sempre carregada de livros e sonhos.
Hoje carrego medo e preocupações, e embora não tendo mochila, este fardo é
incrivelmente mais pesado que outrora. Perco-me. Para quando um implante do Google
maps no cérebro? Volto, pergunto e para variar ando na direção contrária. Dou a volta e percebo que tenho andado em
círculos. As pessoas devem me achar louca porque falo mentalmente e faço
caretas enquanto isto. Finalmente a parada do ônibus, permaneço embaixo do viaduto.
Alguns minutos depois, estou novamente tentando equilibrar-me qual gado em um
transportador para frente e para trás e para ambos os lados. Uma licencinha por
favor. Passa um rapaz com pasta, passa uma jovem gorda. Quase desmenti a física
porque simplesmente as pessoas insistem em achar que dois corpos podem sim
ocupar o mesmo lugar. Mas os transportes públicos tem as suas regras: aperta
que isto é igual coração de mãe, sempre cabe mais um, e quando quiser descer,
puxa a cordinha, mas antes procure chegar o mais próximo da porta, pergunte a
todos se vão descer na mesma parada e caso contrário, vá rebolando até lá. Afinal
a chuva parou deixando um espelho negro que reflete as luzes vermelhas. As buzinas
diminuíram, o trânsito flui mais rápido. E a cidade tem menos pressa de ir
embora. E eu pelo contrário tenho pressa de voltar para os meus havaianas.
terça-feira, 12 de março de 2013
Pensamentos
Estou sentada na frente de um computador, deve fazer umas três horas. Blusa de cetim apertada nos braços,é bom não posso me espreguiçar. Saia verde pelo joelho. Tenho uma entrevista dentro de hora e meia, dois ônibus, meio turno, salário baixíssimo. Tenho a certeza de que vou só mesmo para agradar a minha mãe, já que este valor não consigo nem por meu filho só de manhã na creche. Tentei por várias vezes contactar com o marido, mas estamos em um jogo de gato e rato involuntário desde o início do dia. Acho que morreu. Só pode ter morrido. Porque estava on line e não me respondeu? Nestas horas a morte me parece mais provável do que a queda de internet. É o medo que me assombra, o medo de que a chance de me livrar de vez desta merda, morra de vez. Por outro lado, penso mesmo que ele lá está só e que teria a velha dona do apartamento e a vizinha do lado do quarto a decência de me avisar? E se morre e eu não fico sabendo? Estou enlouquecendo, eu sei e é por isto que sofro. Enlouqueço como um pássaro agora enfiado em um espaço minúsculo e solitário. O vazio e a prisão da minha própria vida. E se nem a comida mais me deixa feliz, a solução é dormir. Já acordo com vontade de dormir. Não é sono, é só a vontade de hibernar e acordar quando o inverno passar...
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