Em um post que escrevi já faz algum tempo, volta e meia alguém me pergunta sobre como me sinto hoje sobre não gostar de ser mãe. Quando escrevi aquilo o Fabian tinha dois anos, era um menino extremamente agitado em uma simples extensão do bebê exigente que fôra. Eu não sei o que veio primeiro: se o sentimento de não me sentir arrebatada pela experiência de um amor sobrenatural ou a minha própria vivência desprovida de momentos de comercial do dia das mães.
Neste tempo, o Fabian cresceu, eu mudei, mas o que sinto pouco se alterou. Há dias em que consigo lidar relativamente bem e há dias em que sinto-me em uma prisão perpétua de culpa e desespero, como se estivesse arranhando paredes e maquinando um plano de fuga já por si mesmo fadado ao fracasso.
É verdade que escolhemos de certa forma a nossa vida, eu escolhi ser mãe. Mas escolhi baseado em um conto, em uma verdade absoluta sustentada por quem já o era. Ninguém me disse que podia ser diferente, que não há uma receita de bolo para o amor. Ainda hoje me surpreende frases de efeito como "ser mãe é viver com o coração fora do corpo". É mesmo? E "eles viram nossa vida de cabeça para baixo, nos fazem perder o sono, a paciência, o dinheiro, mas no fundo vale tudo a pena". Ah é? Eu nunca deixo de pensar se estão mesmo em perfeita sanidade, se não sofrem de síndrome de Estocolmo, segundo a qual os reféns apaixonam-se ou criam afeição pelos seus algozes.
Há um "eu" e as outras, uma forma dicotômica do mundo da maternidade. Ou é ou não é. Afinal que espécie de mãe não sente que o seu filho é mais importante que ela? Que merece todo o sacrifício que puder lhe ofertar, o que muitas vezes significa abdicar de sua própria felicidade? Neste mundo não há boas e más mães, há tão e somente o papel principal de mãe. E ser mãe é ser assim, dona de um amor incondicional incontestável. Que sei eu, vou ser julgada no tribunal das mães, vou arder no inferno das mães...mas...mas...já não disseram elas que ser mãe era padecer no paraíso? E se este é o paraíso, será então o inferno aquele lugar onde criança não entra? Onde podemos ver novela, comer comida quente e transar sem sermos interrompidos? Será o inferno das mães aquele lugar onde não podem ou não precisam mostrar para o mundo que só elas é que sabem do verdadeiro amor?
Uma voz quase sumida me sussurra quando alguém diz que está grávida: digo parabéns ou boa sorte? Há situações Em que o melhor é não dizer nada, mas hoje não fujo mais. Tento viver com este erro da melhor forma que conseguir, deixo para as outras toda a razão que quiserem, já sei que estou condenada a arder no inferno materno junto com a minha coca cola zero e o coração que nunca viveu fora do meu corpo.