segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Cinema da tarde

Vou buscar o Fabian na escola e ele vem o caminho todo a miar. A voz era um novelo enrolado a que ele esticava e voltava a puxar. Mas e o que te incomoda? Era a a camiseta que estava colando nas costas e que depois já em casa descobriu que não era nada disto. Enquanto eu fazia a mamadeira, ele desatou em um choro. Quando lhe perguntei porquê do drama ele dizia que "o choro incomoda eu". Ao que lhe respondi, então não chora, bolas. Berreiro ainda mais alto. "To chorando porque eu choro tantas vezes e tantas vezes que eu não queria chorar!" Buaááá!
É um sentimental este guri, ainda na escola antiga me contava que não gostava do Enzo porque ele o chamava de bebê. E ele não queria chorar e chorava. Não sei a quem puxou, eu é que não, já faz tanto tempo que nem lembro da última vez...

domingo, 25 de janeiro de 2015

O mau humor da fome

Tinha uma amiga de faculdade que me diagnosticou assim. Quando se aproximava das onze e meia, o professor não calava a boca, se avistava sempre os mesmos nerds a fazerem perguntas às quais conheciam as respostas, eu bufava. Botava uma nádega a cada vez na cadeira desconfortável de madeira. Ela me olhava de soslaio, quieta. Sabia que era a pior hora para falar comigo. Era o mau humor da fome tomando conta de mim. Depois daquela sombra ou do buraco negro que se espalhava no meu estômago comendo cada pedacinho de pensamentos bons que pudesse ter, a vida era escura, um breu. Quase podia ouvir os titãs cantando "você tem fome de quê, você tem sede de quê?". Na fila sem fim do R.U. (restaurante universitário) ouvia-me resmungar com o grupo de hippies atrás de nós, ou dos textos que tivemos de ler ou do cardápio que teria naquele dia. Mas ela sabia que tudo aquilo não era eu, era a fome falando, o buraco negro dentro de mim. Bastava que se enchesse com arroz grudado, feijão sem sal e carne cheia de nervos para voltar a ter a amiga tranquila de sempre.
Eu e meu estômago temos uma relação assim, bipolar: ora ele me faz a mais feliz das criaturas, ora ele me transforma na mais miserável . Detesto fazê-lo passar fome e é por isto que para mim dieta é das piores coisas que me podem fazer passar. Eu sei que dizem que não se passa fome, que é só comer de três em três horas, mas pouquinho, comidinha leve, sem sal nem açúcar. Nã! Comida em doses homeopáticas é um hiato emocional, e o que não enche barriga não melhora a paciência. Eu sei que eu e ele precisamos discutir a relação, o verão está quase aí e vem pelo correio uns biquínis do Brasil...mas começar outra vez a controlar a alimentação já me deixa de mau humor. Ainda bem que a minha amiga está bem longe (para o bem de nossa amizade).
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