domingo, 31 de maio de 2015

Eu e esta minha mania de musicalizar a vida

Não tem vez que resolvo escrever sobre qualquer coisa que uma palavra não leve a outra, que leva finalmente a uma canção. Ia falar sobre as gaivotas e no quanto é difícil se escapar da merda, venha ela de cima ou debaixo. Estava atravessando a rua outro dia e senti que alguém havia me atirado uma pedra, só que era uma pedra verde e gosmenta. A primeira vez a gente nunca esquece...
 Tem quem tenha periquito de estimação, cocota...minha vizinha do prédio em frente tem uma gaivota. Agora falando assim ficou parecendo aqueles poemas toscos, juro que não foi a intenção! Bicho sacana que é gaivota. Come de graça e ainda caga tudo e depois ri. Cada vez que escuto ela "rindo" à la Fafa de Belém, imagino que tenha acertado  na cabeça de alguma criatura. 
Quando fiquei sabendo que O Pato de João Gilberto ganhou uma versão francesa, pensei se não ia começar com ~ a gaivota vinha cantando alegremente (nhén nhén) quando a pomba sorridente pediu para entrar também no samba (no samba, no samba). Samba Dingue ou samba do maluco, toca em looping na minha cabeça e no mp3 também. Não tem aquelas musicas que se tem medo de enjoar, mas que a vontade de escutar é sempre mais forte? E não é que a língua  de Molière tem tudo a ver com samba? "é por tudo, quando eu penso que sou um maluquinho, quando misturo o francês ao Brasil", bem melhor do que o suposto samba que uma gaivota, uma pomba e um cisne (nunca disse que mora um casal de cisnes bem na esquina onde o rio se encontra com o mar?) poderiam fazer. Mas isto eu sou suspeita para falar, porque sou dingue, dingue, dingue como diria o Raul, maluca beleza, pelo samba. 


terça-feira, 26 de maio de 2015

Do pau no gato ao rato verde





Mais uma para aquela torta na cara básica que imagino quando alguém solta um "só no Brasil":
A dona Chica (cá-cá) admirou-se com o berro que o gato deu, mas será que ela faria o mesmo com os "messieurs"* que ao verem o  rato pego pelo rabo, sugerem que o joguem no óleo, depois na água quente para fazer como se cozinha o caracol?

A musiquinha "Une souris  verte" anda tão na moda aqui em casa que tem dias que às vezes dou por mim cantando a má sorte do ratinho. Ô dó!


* senhores

quinta-feira, 21 de maio de 2015

O Fabian aprende sobre auto-controle

Veio todo feliz semana passada segurando uma figurinha de álbum com aqueles bichos feios que nunca sei o que são. "Viu, mãe, eu que ganhi! Eu si comporti!" Dormiu com ela amassada entre as mãos e no outro dia queria levar para a escola. Parece que o sistema é assim: cada dia antes da saída, a professora decide se o comportamento foi bom ou mau e conforme for, a criança ganha um "soleil" ou uma "nuage"* no quadro ao lado do seu nome. Cinco ou quatro soleils dão direito ao prêmio, como diz o Fabian, o "prêmio de levar para casa". 
Quando pergunto-lhe como passou o dia, ele me olha com a cara mais feliz do mundo e com as mãos ao lado do corpo duras e os punhos fechados, diz : "Eu si comporti mãe, não bati em nenhum dos meus amigos". Isto segredado em uma mistura de naturalidade e orgulho, como se não fosse uma obrigação social controlar tais impulsos. E eu? Sorrio de alívio, claro... Haja tempo para que a recompensa seja  comida, cigarro, futebol ou sexo. Formulas de escape de adultos, não tão inofensivas quanto uma carta amassada entre as mãos.

* Sol ou nuvem.

Blue eyes



Há certas profissões que qualquer decisão pessoal mal tomada pode resultar em uma grande merda para os outros. O primeiro pensamento geralmente foge para os médicos, enfermeiros, socorristas. Ninguém pensa em um simples funcionário administrativo cujo serviço seja apenas apertar com força um carimbo. Talvez seja porque a morte é por demais definitiva que erros banais que podem mudar vidas, adquiram contornos de "ups, foi mal aí", quase como se fosse alguma desculpa cármica para as coisas terem corrido assim. 
Geralmente não vejo filmes brasileiros pelo hábito simples e idiota de estar acostumada a ler legendas. Embora tenhamos filmes muito bons, também já me cansa ver coisas só relacionadas ao triângulo amoroso Rio-tráfico-violência como se não fôssemos nada mais do que isto, como se a calçada de Ipanema se estendesse até o litoral gaúcho e que Tom Jobim fatalmente caísse de amores por uma loira ao invés de uma cabocla vinda de Guarani das Missões. Já que todo mundo sabe que a única beleza cheia de graça só é produzida na zona sul e ela tem os cabelos dourados e o corpo esguio...
Blue Eyes é um filme brasileiro que é 90% falado em inglês, pois conta o episódio de um agente de imigração que resolveu tomar um porre no último dia antes de se aposentar. Ele e uma colega resolvem brincar com uma dezena de imigrantes que aguardam autorização para entrar nos EUA. Entre eles, uma cubana, um casal de argentinos, um grupo de atletas colombianos e o brasileiro "Nonato". Tirando a licença poética, é um retrato puro e duro do que acontece nos bastidores da imigração. Racismo, xenofobia, abuso de poder: todos estes bichos loucos e raivosos soltos, com a ressalva deste histerismo estar dentro da lei. 
Blue Eyes conta com apenas um ator conhecido: Frank Grillo, mas isto para mim é até um ponto a mais. Gostei principalmente quando começa a se questionar sobre quem é mais americano ali, o chefe loiro e de olhos azuis, a colega negra e o "latino" nascido de pai mexicano e ilegal. Porque sem dúvida que há sempre uns que são filhos e outros enteados de uma nação "de todos".
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