O Fabian era um adolescente e tinha desaparecido. Lembro-me de suas costas e dos cabelos curtos, quase raspados, mas não vi o seu rosto. Aliás, fazia tempo que não o via, talvez ele estivesse se apagando pouco a pouco, diluindo-se em uma rotina das coisas que pediam para continuar. As pessoas olhavam-me como se me conhecessem há décadas, mas ninguém era-me minimamente familiar.
Fui convidada para a cerimônia de encerramento do liceu (segundo grau) para discursar em nome do meu filho. Subi no palco e olhei aquelas expressões juvenis ainda tão leves, sem qualquer preocupação sobre o futuro. Eles me conheciam das freqüentes idas e vindas na escola por conta do mau comportamento do Fabian, ele era um rapaz muito inteligente, diziam, mas muito arruaceiro. Envolvia-se em brigas e discussões, certa vez até mandou um colega para o hospital. E agora tinha sumido...desapareceu sem qualquer sinal. Lembro de olhar para baixo e falar no improviso sobre a espera, sobre a dúvida se algum dia iríamos nos reencontrar. Era para ele estar ali, mais um rosto entre tantos rostos sem preocupação sobre o futuro...Mas ele não estava. Pedi permissão para cantar um trecho de uma música brasileira "La Bella Luna" e não desafinei: a noite passada você veio me ver, a noite passada eu sonhei com você. Duas vezes. E acordei com a sensação estranha de que aquilo tudo foi muito real para ser só um sonho. Escutei a música umas dez vezes sem parar.
Porque não estou com saco para aturar anônimos ao menos por enquanto. Eles têm razão, quando nos expomos aqui estamos sujeitos a toda sorte de julgamentos e eu acho tudo bem, só rejeito comentários que são puro insulto, no mais, passa. Mas não estou realmente com saco para sequer ler coisas desagradáveis. É uma fase, sei que vai passar, mas senti vontade de estar mais recolhida, de não ficar chateada com gente que só vem para "urubuzar" (neologismo muito nosso hehhe).
Ontem o vento nos expulsou da praia, mas na volta encontramos uma bóia na beira de onde o riacho se encontra com o mar. O homem: olha lá um barquinho abandonado... E eu: quer levar? Hesitação. Não, deixa pra lá. Quando já estávamos fora do alcance eu olho para ele: volta lá e pega, achado não é roubado. Depois de um banho na bóia, com direito a xampú e tudo, hoje vai ser dia de estreá-la.