quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Embrulhos

Ontem à noite pus na mesa todos os presentes que o Fabian ganhará no Natal. Comecei a tarefa mecânica entre deixar pedacinhos de durex (fita cola) na ponta da mesa, dobrar, cortar o papel colorido estampado com renas e papais-noéis. Não sei como, mas de repente meus pensamentos viajaram para a minha tia. Meus primos, os quais só conheci um. A menina e a bebê... Senti-me triste e impotente. Um nó na garganta arranhava-me tornando impossível engolir o que quer que seja. Que natal terão eles? O primeiro de muitos natais sem a mãe... Em novembro, o filho mais velho de oito anos, quis fazer um bolo de aniversário e cantar parabéns à mãe morta, mas o pai não deixou. Lembro-me como se fosse ontem quando a vó me contou por telefone, engoli em seco mas não disse nada. Assim fiquei quando soube dos detalhes que ficaram guardados durante aqueles dias, do sofrimento dela em perceber que a luta estava perdida...dos gritos no hospital...do silêncio ao qual a equipe médica achou melhor por estabelecer. Um silêncio que determinou o fim.
Meu papel cinge-se a escutar, tenho de manter-me calada para não deprimir ainda mais a vó. Mas ontem, sozinha, pus-me a pensar neles, nela. No menino mais velho que chorava no dia das crianças a dizer que não queria presente nenhum. Queria apenas a mãe. Depois de fazer todos os embrulhos, eu terminei por dormir com um no estômago...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Tempo



Pessoas são como chaminés transeuntes soltando a fumaça para fora, lutando ao mesmo tempo para que seu calor não se apague. De sua boca cinza corre uma polidez embaçada. Cinza nas roupas, nos rostos, no céu. Ao contrário do resto, o chão transformou-se em um imenso tapete amarelado em que crianças e cães estragefam-no exaustivamente. Ele se desalinha e o vento o conserta outra e outra vez. 
Dizem que o frio é psicológico, eu já acho que é psicopata. O frio espanta qualquer sorriso, congela as boas intenções, faz todo mundo correr para dentro de casa. Não há ninguém na (minha) rua depois das cinco e às quatro e meia da tarde mais parece madrugada. O inverno nem chegou e no entanto parece que está aqui há um ano como uma visita incômoda que demora a partir. 
Já a primavera não passa de uma tênue lembrança... quase emudecida pelos galhos hirtos e tortuosos que arranham o céu e o fazem chorar...

Porque eu nunca daria certo em atendimento ao publico





Tipo isto.

Marché du Noël

Eu rezei para sábado não chover como há muito tempo não pedia por alguma coisa. Foram dias demais arrastados entre casa e escola com o frio pelo meio e eu me sentia esgotada de pensar que o fim de semana seria top sem sair . Na sexta a previsão havia mudado: de chuva para o dia inteiro, tínhamos agora à partir das 20 horas. Eu sei, tornei-me uma maluquinha do tempo, mas mais uma  vez arrastei o Fernando para aquele maravilhoso mar de turistas ainda mais deslumbrados do que o costume, já que havia na maioria dos prédios antigos dezenas de bolinhas e luzinhas a piscar. 
Desta vez dispensamos o carrinho do Fabian, pois além de fazer uns generosos 9 graus (calorzão), ele já tem muito mais resistência para caminhar do que no ano passado. Finalmente consegui comprar a minha casa alsaciana, o difícil foi escolher. Eram tantas, umas mais lindas do que as outras, assim como tantas eram as cabeças para desviar até chegar no balcão onde erguiam-se acima de prateleiras  tão altas que exigiram uma escada. Eu sempre tive gana daquelas pessoas que tem uma imensidão de tempo para escolher o que vão querer, mas que quando chegam em frente ao funcionário, abrem a boca e ficam cinco minutos apalermadas entre murmúrios de dúvida . Quase tornei-me uma destas, minha sorte foi que a multidão desfez-se como um estourar de boiada e deu-me a oportunidade de ver de mais perto, em questão de poucos minutos estava a apontar a casinha azul e a levá-la em meus braços. 
Depois fomos dar um oi para o grand sapin que todos os anos se ergue decorado de luzes e bolas gigantes como ele. São dezenas de feirinhas que formam o marché du Noël e não apenas uma e enorme feira; o pinheiro é um símbolo bonito, mas é evidente que o povo esta ali por elas. E que povo minha gente, dava a impressão que metade da França estava lá, assim como metade da Alemanha. Os alsacianos se gabam de ter o mais bonito e mais antigo marché de uma forma que lembra como nós gaúchos atestamos a paternidade do churrasco. É uma festa linda sim senhora, e acredito ser a única ocasião em que o frio combina com alguma coisa, porque algodão a imitar neve é feio e cafona que dói. Melhor nevar então!








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