quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Embrulhos

Ontem à noite pus na mesa todos os presentes que o Fabian ganhará no Natal. Comecei a tarefa mecânica entre deixar pedacinhos de durex (fita cola) na ponta da mesa, dobrar, cortar o papel colorido estampado com renas e papais-noéis. Não sei como, mas de repente meus pensamentos viajaram para a minha tia. Meus primos, os quais só conheci um. A menina e a bebê... Senti-me triste e impotente. Um nó na garganta arranhava-me tornando impossível engolir o que quer que seja. Que natal terão eles? O primeiro de muitos natais sem a mãe... Em novembro, o filho mais velho de oito anos, quis fazer um bolo de aniversário e cantar parabéns à mãe morta, mas o pai não deixou. Lembro-me como se fosse ontem quando a vó me contou por telefone, engoli em seco mas não disse nada. Assim fiquei quando soube dos detalhes que ficaram guardados durante aqueles dias, do sofrimento dela em perceber que a luta estava perdida...dos gritos no hospital...do silêncio ao qual a equipe médica achou melhor por estabelecer. Um silêncio que determinou o fim.
Meu papel cinge-se a escutar, tenho de manter-me calada para não deprimir ainda mais a vó. Mas ontem, sozinha, pus-me a pensar neles, nela. No menino mais velho que chorava no dia das crianças a dizer que não queria presente nenhum. Queria apenas a mãe. Depois de fazer todos os embrulhos, eu terminei por dormir com um no estômago...

Um comentário:

  1. Pois é menina...eu imagino o choque da minha vó porque a tia não queria que ela soubesse que estava tão doente, a vó chegou dois dias antes dela partir no Rio...
    Beijinhos

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