quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Da laicidade

Semana passada um ex-colega de faculdade partilhou em seu blog um texto sobre a laicidade do Estado francês. Ele e a mulher passam uma temporada aqui e admito que estão muito melhor informados do que eu, mas diziam eles que a polêmica se levantou porque alguém em uma repartição pública de uma cidade do interior, teve a brilhante idéia de montar um presépio no hall do edifício. A lei não é nova, mas parece que este ano é para valer: bafafá armado e os funcionários tiveram mesmo de desmontá-lo. Acho muito bem. Há não muito tempo, as escolas tinham crucifixos pendurados nas salas de aula, apesar de não se catequizar os alunos, este era um símbolo incômodo para os pais islamitas. Ah é? - disse o governo. A pressão foi tanta que tiraram por fim todos os crucifixos, porém foi estendida a todo e qualquer símbolo religioso no perímetro escolar. Caiu o véu das meninas, portanto. Oh, sacrilégio! "Islamofobia". 
Em primeiro lugar, concordo com o colega e com a lei que proíbe setores públicos de ostentarem qualquer símbolo que remeta à religião, é uma premissa do Estado ser neutro, independente do credo, etnia ou sexo dos cidadãos. Pois que seja: nas salas de tribunais ou de escolas e universidades. Porém quando se trata  da visita do Papai Noel, penso diferente. E por quê? Por que esta figura não tem para as crianças nenhum caráter religioso, apesar deste ter sido inspirado em São Nicolau. Hoje quem elas adoram é muito mais o ícone criado pela Coca Cola do que outra coisa. Tanto não se fala em Jesus, que o meu filho pensava que quem fazia aniversário era o Papai Noel e que ao invés de ser ele a ganhar presentes, os deixava para as crianças boazinhas. A bem dizer, isto não passa de uma espécie de Big Brother infantil, concurso no qual são vigiados um ano inteiro a fim que se saiba se "merecem" um prêmio ou não. Qual é a finalidade do bom velhinho além de por o comércio a mexer e os meninos a temer um pinheiro com pés  vazios?  
Ainda para mais, a visita é feita tão e somente nos maternais, já que não faz sentido mandar alguém (magro e boiando em uma fantasia de cetim) com uma barba mais falsa do que simpatia de sogra na sala de uns marmanjos de dez anos. 
Em segundo lugar, há a questão de que a escola não se resume apenas em ensinar números e uma porção de músicas chatas que prendem na cabeça dos pais depois dos filhos as cantarem em looping. Talvez, mais importante do que isto, seja papel da escola e digo do maternal principalmente, proporcionar  o primeiro contato com a cultura francesa (lembrando que muitas crianças estão de tal modo envolvidas na cultura e língua paternas que chegam à escola sem dizer uma palavra em francês). Ora, a França é um país de maioria católica, feliz ou infelizmente, e que rege-se pelo calendário cristão, tem suas férias e feriados cristãos. Eu não estou dizendo que deva-se apoiar o preconceito, longe de mim pois que cuspiria para cima, sendo eu também emigrante. O que acho é que o país não é nosso, nós é que temos de (nos) mudar ou aceitar que as coisas são como são. A comunidade islâmica quer muitas vezes dobrar a França, algumas vezes com razão, mas muitas vezes sem. Meu colega ainda é muito verde no que toca a morar fora e ainda não é pai. Por isto de certa forma entendo o seu pensamento. Neste tempo aprendi que temos de achar o nosso lugar no país que escolhemos viver, mas acima de tudo somos nós que temos de nos apertar para caber e não o contrário.
A espera pelo Papai Noel é vivida com ansiedade pelos pequenos, que decoraram bolas de cartolina para pendurar nos pinheirinhos naturais montados na entrada da escola. Amanhã o Fabian vai levar um bolo para comer com os colegas e, quando voltar tenho certeza de que vai vir cheio de histórias mirabolantes. Amanhã o papai Noel vai visitar a escola. E vai ser uma alegria só!

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