quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Feliz



Eis que depois de um pouco mais de um ano, finalmente o Fabian está falando francês. Não como um nativo, claro, mas já se faz entender com pequenas frases repetidas até a exaustão: allez, on va jouer maman?* Quando está em casa fala sozinho e canta em francês, ainda atrapalha-se com alguns fonemas, assim como o faz em português, porém por tudo pelo que passamos eu achei que este dia não chegaria nunca. 
O Fabian foi uma criança que demorou muito a falar, começou a soltar as primeiras palavras com um ano e meio (que se resumiam a mamã e carro), mas somente aos três é que podia-se dizer que dominava a língua. Na época, a minha mãe insistiu na importância de uma fonoaudióloga e ele fez algumas sessões enquanto andava à cavalo meses antes de virmos para a França. 
Ontem a professora dele deu-me os contatos de uma fonoaudióloga  aqui perto de casa. Logo agora que eu estava tão feliz desta grande conquista dele! Disse que ele pronunciava mal as palavras e eu fiquei a pensar se por esta lógica também eu não precisava de uma. Assim como a maioria dos emigrantes, diga-se de passagem. 
Na minha humilde opinião, aprender uma outra língua é como voltar à infância, na época em que ainda éramos incomunicáveis, em que usávamos de mímica, choro e pontas de dedo para nos fazer entender. É como aprender a falar (de novo). No caso do francês, há uma série de "R"s carregados, e "U"s terminando em biquinho, e vogais fechadas, e uma montanha russa fonética totalmente diferente de nossa antiga forma de comunicação. É normal que nosso cérebro exija um tempo para que toda esta novidade seja absorvida e por si mesma tornada inconsciente e automática. Até ao momento em que não precisaremos pensar que som faz o ditongo "au", "oi" ou mesmo que o "e" é quase um primo do "o" na famosa musiquinha do alfabeto.
Aceitei o conselho, embora a gente saiba o que se faz com eles. Anotei o número com a certeza de que apenas o fazia por educação, pois que eu acho que não há comparação possível a se fazer entre uma criança que fala (e ouve) francês deste bebê a uma que apenas teve seu primeiro contato há um ano. Para mim, o Fabian fez uma evolução incrível e não falo apenas porque é meu filho, mas porque antigamente ele tinha tanta aversão ao idioma que nem abria a boca na sala de aula a não ser para falar português. Basicamente sinto como se ele tivesse furado a bolha, sentido os dedos do mundo puxá-lo para fora e agora anda por aí, a correr orgulhoso de seu esforço. Não, ele não precisa de uma fonoaudióloga, ele precisa de tempo. Um pouco mais de tempo e paciência para ser robotizado e devidamente encaixado ao sistema educacional francês.



*Vamos brincar mamãe?

2 comentários:

  1. Eu fico apalermada com as coisas que se dizem. Muito, muito bom é ele começar a aprender. Com o tempo aperfeiçoa. E aprender uma língua na qual não se começou a falar é coisa que leva tempo. A não ser que sejas sempre bilingue com ele.

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  2. Sim, Timtim, eu acho que de uns seis meses para cá ele aprendeu muito e principalmente perdeu a vergonha de falar errado. Nunca vi ninguém que tenha falado corretamente desde o início. Mas é claro que se eu notar que ele está com dificuldades vou procurar ajuda sem problema nenhum.
    Beijinhos

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