terça-feira, 26 de maio de 2015

Do pau no gato ao rato verde





Mais uma para aquela torta na cara básica que imagino quando alguém solta um "só no Brasil":
A dona Chica (cá-cá) admirou-se com o berro que o gato deu, mas será que ela faria o mesmo com os "messieurs"* que ao verem o  rato pego pelo rabo, sugerem que o joguem no óleo, depois na água quente para fazer como se cozinha o caracol?

A musiquinha "Une souris  verte" anda tão na moda aqui em casa que tem dias que às vezes dou por mim cantando a má sorte do ratinho. Ô dó!


* senhores

quinta-feira, 21 de maio de 2015

O Fabian aprende sobre auto-controle

Veio todo feliz semana passada segurando uma figurinha de álbum com aqueles bichos feios que nunca sei o que são. "Viu, mãe, eu que ganhi! Eu si comporti!" Dormiu com ela amassada entre as mãos e no outro dia queria levar para a escola. Parece que o sistema é assim: cada dia antes da saída, a professora decide se o comportamento foi bom ou mau e conforme for, a criança ganha um "soleil" ou uma "nuage"* no quadro ao lado do seu nome. Cinco ou quatro soleils dão direito ao prêmio, como diz o Fabian, o "prêmio de levar para casa". 
Quando pergunto-lhe como passou o dia, ele me olha com a cara mais feliz do mundo e com as mãos ao lado do corpo duras e os punhos fechados, diz : "Eu si comporti mãe, não bati em nenhum dos meus amigos". Isto segredado em uma mistura de naturalidade e orgulho, como se não fosse uma obrigação social controlar tais impulsos. E eu? Sorrio de alívio, claro... Haja tempo para que a recompensa seja  comida, cigarro, futebol ou sexo. Formulas de escape de adultos, não tão inofensivas quanto uma carta amassada entre as mãos.

* Sol ou nuvem.

Blue eyes



Há certas profissões que qualquer decisão pessoal mal tomada pode resultar em uma grande merda para os outros. O primeiro pensamento geralmente foge para os médicos, enfermeiros, socorristas. Ninguém pensa em um simples funcionário administrativo cujo serviço seja apenas apertar com força um carimbo. Talvez seja porque a morte é por demais definitiva que erros banais que podem mudar vidas, adquiram contornos de "ups, foi mal aí", quase como se fosse alguma desculpa cármica para as coisas terem corrido assim. 
Geralmente não vejo filmes brasileiros pelo hábito simples e idiota de estar acostumada a ler legendas. Embora tenhamos filmes muito bons, também já me cansa ver coisas só relacionadas ao triângulo amoroso Rio-tráfico-violência como se não fôssemos nada mais do que isto, como se a calçada de Ipanema se estendesse até o litoral gaúcho e que Tom Jobim fatalmente caísse de amores por uma loira ao invés de uma cabocla vinda de Guarani das Missões. Já que todo mundo sabe que a única beleza cheia de graça só é produzida na zona sul e ela tem os cabelos dourados e o corpo esguio...
Blue Eyes é um filme brasileiro que é 90% falado em inglês, pois conta o episódio de um agente de imigração que resolveu tomar um porre no último dia antes de se aposentar. Ele e uma colega resolvem brincar com uma dezena de imigrantes que aguardam autorização para entrar nos EUA. Entre eles, uma cubana, um casal de argentinos, um grupo de atletas colombianos e o brasileiro "Nonato". Tirando a licença poética, é um retrato puro e duro do que acontece nos bastidores da imigração. Racismo, xenofobia, abuso de poder: todos estes bichos loucos e raivosos soltos, com a ressalva deste histerismo estar dentro da lei. 
Blue Eyes conta com apenas um ator conhecido: Frank Grillo, mas isto para mim é até um ponto a mais. Gostei principalmente quando começa a se questionar sobre quem é mais americano ali, o chefe loiro e de olhos azuis, a colega negra e o "latino" nascido de pai mexicano e ilegal. Porque sem dúvida que há sempre uns que são filhos e outros enteados de uma nação "de todos".

Amigas

Chegou atrasada como sempre. Desde que se casara com aquele dentista da zona sul que a amiga andava mudada, não  havia dúvidas  de que o novo status lhe subiu à cabeça. E lá vinha com os seios apertados em um decote florido. "Quanto será  que haviam lhe custado?",  mas endireitou o sorriso para oferecer três  beijinhos.

- Desculpa o atraso, mas o Beto... - Lágrimas  despencaram deixando um tênue  rastro de rímel. - Eu... eu...nós... - Escondeu os soluços sob as mãos.

Cláudia  ficou por instantes sem reação, até  lembrar-se de alcançar um guardanapo que sobrou do café. A amiga pegou rapidamente e pôs-se a enxugar a maquiagem mais do que os próprios olhos. Ela não pôde  deixar de notar a aliança mais estravagante que já vira: um grosso anel de ouro com um diamante solitário  no meio. Colocou sem jeito o braço em seu ombro nu e deu-lhe tapinhas enquanto fazia o chiado com os lábios, o mesmo que costumava acalmar o filho. "Vai ficar tudo bem, calma..." Depois de um tempo que pareceu uma eternidade, a amiga suspirou e soltou as palavras como se soltasse um pum que há muito pedia para sair.  

- Vamos nos separar. - Depois veio a cara de alívio.
- Separar, Su? Como assim separar? Vocês recém casaram! 

Agora era a amiga que soltava gritinhos histéricos. Susana sorria com seu batom cor de ameixa e tamborilava as unhas de gel de bolinha saboreando cada expressão de Cláudia. Quem diria que seria ela a chutar aquela bela bunda do Beto? A bunda empinada e redonda, junto com o tanquinho depilado, com as coxas musculosas e os bíceps de quem conseguia trepar a segurando por quarenta minutos? Havia a amiga por acaso colocado botox nos neurônios? Beto...se ao menos naquele dia o filho ranhento não estivesse doente e a obrigado a ficar em casa, então talvez....talvez ela tivesse tido uma chance. Isto se desconsiderasse a diferença visual que havia entre ela e a amiga. Podia-se imaginar sentada ao seu lado enquanto ele chegava e a convidava para dançar. E no fim a amiga lhe deixaria a bolsa para cuidar enquanto partia com aquele belo par de olhos verdes. "Ele nunca me olharia mesmo..." Conferiu vagamente os seus quadris, lembrando das fotos que havia visto da lua-de-mel no facebook. Ela curtiu, mas só  para não despertar desconfiança, porque de tudo que havia passado em sua cabeça, "like" não era de longe a primeira. Beto e Susana no mar do Haiti, a amiga na banheira de hidromassagem, Beto de sunga...Beto de snorkel...Beto de jet ski com Su na garupa...Beto só  de bermuda no passeio de barco... Como alguém que passa lua-de-mel naquele paraíso  pensa em se separar um mês  depois?

- Posso ao menos perguntar porquê?
- Pode.
- Então? Por que? - Susana fez um gesto com as mãos e uma careta. - Quer ser mais específica  por favor?
- É pequeno. Pequeno, não, minúsculo.
- O que, mulher? - Claudia não conseguia imaginar o que a poderia incomodar em um homem bem de vida, bonito, alto, educado, culto...
- O pirilau ôxe. O pau, o tico, whatever...
- Mas... veja bem amiga, os homens não são todos iguais e tamanho não é documento.
- Experimenta oito centímetros  de documento e depois conversamos.
- Você disse oito? Tem certeza mesmo? Mediu? 
- Aham. Com o meu dedo e claro, depois medi o dedo.
- Oito centímetros duro?
- Caramba, já falei Cláudia! É complicado, já na primeira vez foi. Não há maneira de sentir aquilo. É como fazer sexo com o meu polegar.
- E o que você  vai dizer a ele? Que vai terminar porque tem um pau pequeno?
- Nossa, você  falando assim até me sinto a pior das quase ex-esposa... Não sei, não pensei ainda. Acho que o clássico, né: o problema sou eu, não você...
- Já tentou colocar atrás?
- Já, é a unica forma de eu não  me sentir o metrô  de Paris.
- E um vibrador na frente e ele atrás?
- Já imaginou eu dando esta desculpa por mais de dois anos? 
- E um amante?
- Cláudia, mulher, você tá é louca para salvar este casamento, parece padre, viu?
A verdade era que nem Claudia sabia como lidar com aquele quadro. Olhou para Susana fingindo que nunca havia imaginado como seria Beto nu, embora sempre tivesse procurado pelo volume na sunga branca. Mesmo com o visível desespero da amiga, não conseguia encaixar uma coisa que não fosse menor do que quinze centímetros. Era como se uma parte de seu mundo ruísse, mesmo que fosse um mundo que se restringia a vinte minutos enquanto se masturbava. Como ia pensar em Beto lhe lambendo os seios agora? E quando pusesse o dedo lá embaixo saberia exatamente como a amiga sentia-se na hora do sexo.
- Mas e o amor?
- Lembra da música da Rita Lee? Sexo é do bom, amor é do bem? Então, e lá o amor sobrevive a oito  centímetros?
- Por causa de...
- Nós já tentamos todas as posições anatomicamente possíveis, isto é, as em que o negocinho não fica saindo o tempo todo e quer saber? Os sexólogos mentem, não existe ponto g, só um grande e enorme vazio em mim...



Era  meia noite de domingo e Cláudia não tinha pregado o olho apesar de saber que no outro dia tudo começava outra vez. A tela do celular iluminou-se quando a mensagem de Susana chegou. Ela debruçou-se nos lençóis amarrotados enquanto lutava para não ceder à tentação. Lá de dentro da gaveta das meias, embrulhado em uma toalha de rosto, jazia Beto. Tudo aquilo que ela conhecia dele. E ainda por cima nem verdade era. Cláudia desceu da cama na ponta dos pés e agarrou-o por baixo das cobertas. Sentiu a vulva contrair-se com o brinquedo de quase vinte centímetros. Beto entrava e saía de dentro dela como o fazia com Susana. A diferença é que nenhuma delas estava satisfeita com o pedaço de Beto que lhe coubera...



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