- Desculpa o atraso, mas o Beto... - Lágrimas despencaram deixando um tênue rastro de rímel. - Eu... eu...nós... - Escondeu os soluços sob as mãos.
Cláudia ficou por instantes sem reação, até lembrar-se de alcançar um guardanapo que sobrou do café. A amiga pegou rapidamente e pôs-se a enxugar a maquiagem mais do que os próprios olhos. Ela não pôde deixar de notar a aliança mais estravagante que já vira: um grosso anel de ouro com um diamante solitário no meio. Colocou sem jeito o braço em seu ombro nu e deu-lhe tapinhas enquanto fazia o chiado com os lábios, o mesmo que costumava acalmar o filho. "Vai ficar tudo bem, calma..." Depois de um tempo que pareceu uma eternidade, a amiga suspirou e soltou as palavras como se soltasse um pum que há muito pedia para sair.
- Vamos nos separar. - Depois veio a cara de alívio.
- Separar, Su? Como assim separar? Vocês recém casaram!
Agora era a amiga que soltava gritinhos histéricos. Susana sorria com seu batom cor de ameixa e tamborilava as unhas de gel de bolinha saboreando cada expressão de Cláudia. Quem diria que seria ela a chutar aquela bela bunda do Beto? A bunda empinada e redonda, junto com o tanquinho depilado, com as coxas musculosas e os bíceps de quem conseguia trepar a segurando por quarenta minutos? Havia a amiga por acaso colocado botox nos neurônios? Beto...se ao menos naquele dia o filho ranhento não estivesse doente e a obrigado a ficar em casa, então talvez....talvez ela tivesse tido uma chance. Isto se desconsiderasse a diferença visual que havia entre ela e a amiga. Podia-se imaginar sentada ao seu lado enquanto ele chegava e a convidava para dançar. E no fim a amiga lhe deixaria a bolsa para cuidar enquanto partia com aquele belo par de olhos verdes. "Ele nunca me olharia mesmo..." Conferiu vagamente os seus quadris, lembrando das fotos que havia visto da lua-de-mel no facebook. Ela curtiu, mas só para não despertar desconfiança, porque de tudo que havia passado em sua cabeça, "like" não era de longe a primeira. Beto e Susana no mar do Haiti, a amiga na banheira de hidromassagem, Beto de sunga...Beto de snorkel...Beto de jet ski com Su na garupa...Beto só de bermuda no passeio de barco... Como alguém que passa lua-de-mel naquele paraíso pensa em se separar um mês depois?
- Posso ao menos perguntar porquê?
- Pode.
- Então? Por que? - Susana fez um gesto com as mãos e uma careta. - Quer ser mais específica por favor?
- É pequeno. Pequeno, não, minúsculo.
- O que, mulher? - Claudia não conseguia imaginar o que a poderia incomodar em um homem bem de vida, bonito, alto, educado, culto...
- O pirilau ôxe. O pau, o tico, whatever...
- Mas... veja bem amiga, os homens não são todos iguais e tamanho não é documento.
- Experimenta oito centímetros de documento e depois conversamos.
- Você disse oito? Tem certeza mesmo? Mediu?
- Aham. Com o meu dedo e claro, depois medi o dedo.
- Oito centímetros duro?
- Caramba, já falei Cláudia! É complicado, já na primeira vez foi. Não há maneira de sentir aquilo. É como fazer sexo com o meu polegar.
- E o que você vai dizer a ele? Que vai terminar porque tem um pau pequeno?
- Nossa, você falando assim até me sinto a pior das quase ex-esposa... Não sei, não pensei ainda. Acho que o clássico, né: o problema sou eu, não você...
- Já tentou colocar atrás?
- Já, é a unica forma de eu não me sentir o metrô de Paris.
- E um vibrador na frente e ele atrás?
- Já imaginou eu dando esta desculpa por mais de dois anos?
- E um amante?
- Cláudia, mulher, você tá é louca para salvar este casamento, parece padre, viu?
A verdade era que nem Claudia sabia como lidar com aquele quadro. Olhou para Susana fingindo que nunca havia imaginado como seria Beto nu, embora sempre tivesse procurado pelo volume na sunga branca. Mesmo com o visível desespero da amiga, não conseguia encaixar uma coisa que não fosse menor do que quinze centímetros. Era como se uma parte de seu mundo ruísse, mesmo que fosse um mundo que se restringia a vinte minutos enquanto se masturbava. Como ia pensar em Beto lhe lambendo os seios agora? E quando pusesse o dedo lá embaixo saberia exatamente como a amiga sentia-se na hora do sexo.
- Mas e o amor?
- Lembra da música da Rita Lee? Sexo é do bom, amor é do bem? Então, e lá o amor sobrevive a oito centímetros?
- Por causa de...
- Nós já tentamos todas as posições anatomicamente possíveis, isto é, as em que o negocinho não fica saindo o tempo todo e quer saber? Os sexólogos mentem, não existe ponto g, só um grande e enorme vazio em mim...
Era meia noite de domingo e Cláudia não tinha pregado o olho apesar de saber que no outro dia tudo começava outra vez. A tela do celular iluminou-se quando a mensagem de Susana chegou. Ela debruçou-se nos lençóis amarrotados enquanto lutava para não ceder à tentação. Lá de dentro da gaveta das meias, embrulhado em uma toalha de rosto, jazia Beto. Tudo aquilo que ela conhecia dele. E ainda por cima nem verdade era. Cláudia desceu da cama na ponta dos pés e agarrou-o por baixo das cobertas. Sentiu a vulva contrair-se com o brinquedo de quase vinte centímetros. Beto entrava e saía de dentro dela como o fazia com Susana. A diferença é que nenhuma delas estava satisfeita com o pedaço de Beto que lhe coubera...
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