quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Queremos sempre uma razão

Alguém se jogou na frente do trem em Villeneuve Loubet, ele disse. Conseguiu uma carona com um colega e está vindo de carro...sabe-se lá quando terá trem novamente. Não conheço, não sei se é jovem ou velho, nem o porquê. Terá planejado ou este foi um dia em que perdera as forças de remar contra a maré? Terá alguém que deixou para trás? Filhos...esposa? Ou este talvez tenha sido o motivo porque tornara seu destino tão irreversível?
Por que? E importa? Não haverá trem por muitas horas e a culpa me assalta por sentir alívio de que ele volta para casa são e salvo.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Pornô japonês

A primeira vez que vi um filme pornô, eu devia ter uns dezoito anos e foi na casa dos meus avós. Não lembro qual das minhas primas teve a idéia  de que a senha do canal poderia ser composta somente de números  zero, mas depois disto o mundo nunca mais foi o mesmo. Não recordo bem da cena, mas lembro que rapidamente nos entre-olhamos e rimos. Seria o sexo tão ridículo como aquilo? Um homem em um vai e vem mecânico, a mulher a fazer cara para selfie, gemidos escandalosos e lá atrás um cara tocando saxofone. Por que diabos um cara toca saxofone enquanto os outros fazem sexo?
E se ele não aparece, pelo menos completa a trilha sonora. Sim, porque é só ouvir um jazz para logo pensar em sexo né?

O kama sutra musical...

Já faz um tempo que fiquei sabendo que não somos a única espécie a fazer sexo por prazer: dizem que os golfinhos também  fazem-no e os bonobos...ah os bonobos é outra história. São um gênero  de macacos que baseiam sua vida  no dito "faça amor, não faça guerra". Disputa por comida: sexo é a resposta. Disputa por território: vamos fazer sexo antes? Disputa por fêmea: que tal todo mundo junto? Tédio? Carência? Isto mesmo, os bonobos resolvem todos os problemas com sexo, o que faz com que no fim praticamente não haja agressividade entre eles. Bonobos, vocês são uns fanfarrões!

"Aqui de boas imaginando se a humanidade pensasse como nos". 

E acredito que sim, os diretores de filmes eróticos podem muito bem terem se inspirado nos nossos amigos primatas quando desenvolveram os seus scripts. Um motoboy aguarda o pagamento da pizza, mas a mocinha não tem dinheiro, então... Uma diretora resolve dar uma bronca na secretária  depois do expediente e...  O professor descontente coloca a aluna de castigo daí...
Hoje tive a oportunidade de ver um filme japonês meio tosco, não sei se são todos assim, mas achei um pouco diferente do que já tinha visto, mesmo tendo  iniciado com o clichê  da garota colegial. Era para ser uma filmagem amadora, meio estilo taradão do metrô, e todos os rostos e órgãos sexuais estavam protegidos por quadrinhos menos o da jovem. Mas isto nem era o mais bizarro, a lágrima e o beicinho que ela fazia entre o querendo e o afastando. Milhares de closes na lágrima me fizeram questionar  a quem estava destinado deliciar-se com aquilo. 
Acho interessante pensar sobre o que nos excita, acredito mesmo que isto seja uma ponta do inconsciente, a mais óbvia talvez. E por mais esquisito que pareça, me intriga saber até que ponto nossos desejos descendem da cultura a qual pertencemos e até onde são partilhados pela humanidade.  Sabendo que para muitas tribos (tanto brasileiras como africanas), as mulheres acham simplesmente hilário que nossos homens sejam adoradores de seios, pois estes servem apenas para nutrir os filhos; e sabendo que na grande parte de filmes o sexo vendido é um pornô plastificado, feito por homens musculosos com membros enormes e mulheres de cabelos descoloridos com bóias ao invés de peitos, que sentimentos são despertos na hora do sexo? Que partes foram através dos tempos perdendo ou ganhando caráter erótico? Por que o proibido, desajustado ou renegado socialmente são os maiores ímãs  para as fantasias sexuais? Mas já dizia Nelson Rodrigues; 

"Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém".


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Prólogo

O pulso estava nu. Havia despido o relogio que ele lhe dera no seu aniversario. Olhou brevemente para o espelho salpicado de pequenos pontos de pasta de dente e desta vez não sentiu o impulso de limpar. “Para quê?” O primeiro que deparasse com a cena certamente não ia preocupar-se com aquela mancha, mas por certo repararia no rio avermelhado escorregando de seus braços. Toda a vida escorrendo por azulejos brancos, se entranhando nos rejuntes que ela esfregara semana passada. Cada gota guardaria algum momento passado? E se guardasse, à medida em que lhe iam abandonando, a cabeça ficaria mais leve ante o inevitável?

Catherine  tinha a mão trêmula quando agarrou na lâmina; poderia ter escolhido qualquer faca de cerâmica  da cozinha, mas escolheu o canivete suíço: ele garantiu-lhe que jamais a deixaria na mão. Soltou um riso torto, no eco do banheiro pareceu mais com um grunhido do que um som humano. Queria que sofresse.
Iria ao menos vê-la neste dia? Ou mandaria uma floricultura entregar coquelicots pela internet enquanto comia uma qualquer puta de uma atriz americana? Ou em um dia bom, telefonaria para que segurassem o enterro até a hora em que tivesse acabado as cenas às margens do rio Drá? E depois? Depois…
Encostou a cabeça levemente sentindo a parede gelada provocar uma onda de arrepios pelo corpo todo. Os bicos dos seios beijaram o forro da camisola de cetim e de um rasgão da pele branca brotou uma fita vermelho escura. Fechou os olhos torcendo para que o tempo escoasse depressa, mas quando tornou a abri-los, encontrou tudo no mesmo lugar exceto por duas gotas no chão.
Olhou novamente para o canivete e viu que ainda não havia resquicio de sangue, moveu-o fazendo o reflexo  iluminar-se como uma estrela presa em seu espelho. “Não consigo.” Não pusera força suficiente para tal. O calmante começara a fazer efeito e Catherine sentia a cabeça a encher-se de líquido. Em breve lhe taparia a boca, os ouvidos...e quando chegasse aos olhos seria tarde demais.  
Bamboleou para o quarto fazendo o possivel para não olhar para cima. Sentia os seus olhos postos nela. A penugem dos braços tornou a eriçar-se, tropeçou em um par de sapatos ao pé da cama e por muito pouco conseguiu evitar os dentes de se encontrarem com o piso. Mesmo com a luz apagada e somente um fio dela vindo da porta do banheiro, conseguia sentir o meio sorriso de troça por cima dos ombros.
- Você - explodiu em soluços - Está feliz agora? Eu devia pegar isto e lhe furar a cara...que acha? 
Agarrou debilmente a lâmina e pôs-se a subir a cama arrastando-se. A cada centímetro seu pulso depositava flores carmim nos lençóis. Coquelicots. A meio metro de chegar até ele, fraquejou. Era como se todo o seu corpo se tivesse enferrujado e seus membros não mais lhe pertencessem. Foi sentindo os olhos pesados.
- Não...não...eu tinha...que acabar...com isto...
Ergueu o dedo para ele. La do alto o homem observava, escondido e sorrindo. Ha séculos sorrindo.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Se...



Eu falasse tudo o que penso não ia prestar, então prefiro ficar quieta. Estou em um momento sem paciência nenhuma, sem empatia nenhuma com ninguém. Estou ansiosa para que um projeto que sonhei por mais de meio ano se realize e esteve quase, mas infelizmente vamos ter que adiar por algumas semanas. São apenas três, procuro me acalmar...depois acabo por pensar que são mais três semanas longe do meu objetivo. E volto a me irritar como se tivesse sempre à espera de outro imprevisto. 
Estive entupida, cheia de palavras agarradas na garganta. Uma das coisas que me fez perder um pouco o interesse de falar por aqui, foi a desconfiança que um familiar do marido andasse xeretando, e se eu não quero que a família dele saiba da nossa vida, porque colocar aqui de bandeja? 
Enfim...não vou desistir, sei que depois vou sentir-me melhor. Só mais um pouquinho de paciência...

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