terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Pornô japonês

A primeira vez que vi um filme pornô, eu devia ter uns dezoito anos e foi na casa dos meus avós. Não lembro qual das minhas primas teve a idéia  de que a senha do canal poderia ser composta somente de números  zero, mas depois disto o mundo nunca mais foi o mesmo. Não recordo bem da cena, mas lembro que rapidamente nos entre-olhamos e rimos. Seria o sexo tão ridículo como aquilo? Um homem em um vai e vem mecânico, a mulher a fazer cara para selfie, gemidos escandalosos e lá atrás um cara tocando saxofone. Por que diabos um cara toca saxofone enquanto os outros fazem sexo?
E se ele não aparece, pelo menos completa a trilha sonora. Sim, porque é só ouvir um jazz para logo pensar em sexo né?

O kama sutra musical...

Já faz um tempo que fiquei sabendo que não somos a única espécie a fazer sexo por prazer: dizem que os golfinhos também  fazem-no e os bonobos...ah os bonobos é outra história. São um gênero  de macacos que baseiam sua vida  no dito "faça amor, não faça guerra". Disputa por comida: sexo é a resposta. Disputa por território: vamos fazer sexo antes? Disputa por fêmea: que tal todo mundo junto? Tédio? Carência? Isto mesmo, os bonobos resolvem todos os problemas com sexo, o que faz com que no fim praticamente não haja agressividade entre eles. Bonobos, vocês são uns fanfarrões!

"Aqui de boas imaginando se a humanidade pensasse como nos". 

E acredito que sim, os diretores de filmes eróticos podem muito bem terem se inspirado nos nossos amigos primatas quando desenvolveram os seus scripts. Um motoboy aguarda o pagamento da pizza, mas a mocinha não tem dinheiro, então... Uma diretora resolve dar uma bronca na secretária  depois do expediente e...  O professor descontente coloca a aluna de castigo daí...
Hoje tive a oportunidade de ver um filme japonês meio tosco, não sei se são todos assim, mas achei um pouco diferente do que já tinha visto, mesmo tendo  iniciado com o clichê  da garota colegial. Era para ser uma filmagem amadora, meio estilo taradão do metrô, e todos os rostos e órgãos sexuais estavam protegidos por quadrinhos menos o da jovem. Mas isto nem era o mais bizarro, a lágrima e o beicinho que ela fazia entre o querendo e o afastando. Milhares de closes na lágrima me fizeram questionar  a quem estava destinado deliciar-se com aquilo. 
Acho interessante pensar sobre o que nos excita, acredito mesmo que isto seja uma ponta do inconsciente, a mais óbvia talvez. E por mais esquisito que pareça, me intriga saber até que ponto nossos desejos descendem da cultura a qual pertencemos e até onde são partilhados pela humanidade.  Sabendo que para muitas tribos (tanto brasileiras como africanas), as mulheres acham simplesmente hilário que nossos homens sejam adoradores de seios, pois estes servem apenas para nutrir os filhos; e sabendo que na grande parte de filmes o sexo vendido é um pornô plastificado, feito por homens musculosos com membros enormes e mulheres de cabelos descoloridos com bóias ao invés de peitos, que sentimentos são despertos na hora do sexo? Que partes foram através dos tempos perdendo ou ganhando caráter erótico? Por que o proibido, desajustado ou renegado socialmente são os maiores ímãs  para as fantasias sexuais? Mas já dizia Nelson Rodrigues; 

"Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém".


2 comentários:

  1. Sou uma fã das obras de Nelson, aliás Bonitinha veio de um outro blog meu "bonitinha mas ordinária" hehehe!
    Beijinhos

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