sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Bonitinha indelicada

Sempre que eu vejo alguém de maquiagem na academia, sei que dali a pouco estará assim:




quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Da laicidade

Semana passada um ex-colega de faculdade partilhou em seu blog um texto sobre a laicidade do Estado francês. Ele e a mulher passam uma temporada aqui e admito que estão muito melhor informados do que eu, mas diziam eles que a polêmica se levantou porque alguém em uma repartição pública de uma cidade do interior, teve a brilhante idéia de montar um presépio no hall do edifício. A lei não é nova, mas parece que este ano é para valer: bafafá armado e os funcionários tiveram mesmo de desmontá-lo. Acho muito bem. Há não muito tempo, as escolas tinham crucifixos pendurados nas salas de aula, apesar de não se catequizar os alunos, este era um símbolo incômodo para os pais islamitas. Ah é? - disse o governo. A pressão foi tanta que tiraram por fim todos os crucifixos, porém foi estendida a todo e qualquer símbolo religioso no perímetro escolar. Caiu o véu das meninas, portanto. Oh, sacrilégio! "Islamofobia". 
Em primeiro lugar, concordo com o colega e com a lei que proíbe setores públicos de ostentarem qualquer símbolo que remeta à religião, é uma premissa do Estado ser neutro, independente do credo, etnia ou sexo dos cidadãos. Pois que seja: nas salas de tribunais ou de escolas e universidades. Porém quando se trata  da visita do Papai Noel, penso diferente. E por quê? Por que esta figura não tem para as crianças nenhum caráter religioso, apesar deste ter sido inspirado em São Nicolau. Hoje quem elas adoram é muito mais o ícone criado pela Coca Cola do que outra coisa. Tanto não se fala em Jesus, que o meu filho pensava que quem fazia aniversário era o Papai Noel e que ao invés de ser ele a ganhar presentes, os deixava para as crianças boazinhas. A bem dizer, isto não passa de uma espécie de Big Brother infantil, concurso no qual são vigiados um ano inteiro a fim que se saiba se "merecem" um prêmio ou não. Qual é a finalidade do bom velhinho além de por o comércio a mexer e os meninos a temer um pinheiro com pés  vazios?  
Ainda para mais, a visita é feita tão e somente nos maternais, já que não faz sentido mandar alguém (magro e boiando em uma fantasia de cetim) com uma barba mais falsa do que simpatia de sogra na sala de uns marmanjos de dez anos. 
Em segundo lugar, há a questão de que a escola não se resume apenas em ensinar números e uma porção de músicas chatas que prendem na cabeça dos pais depois dos filhos as cantarem em looping. Talvez, mais importante do que isto, seja papel da escola e digo do maternal principalmente, proporcionar  o primeiro contato com a cultura francesa (lembrando que muitas crianças estão de tal modo envolvidas na cultura e língua paternas que chegam à escola sem dizer uma palavra em francês). Ora, a França é um país de maioria católica, feliz ou infelizmente, e que rege-se pelo calendário cristão, tem suas férias e feriados cristãos. Eu não estou dizendo que deva-se apoiar o preconceito, longe de mim pois que cuspiria para cima, sendo eu também emigrante. O que acho é que o país não é nosso, nós é que temos de (nos) mudar ou aceitar que as coisas são como são. A comunidade islâmica quer muitas vezes dobrar a França, algumas vezes com razão, mas muitas vezes sem. Meu colega ainda é muito verde no que toca a morar fora e ainda não é pai. Por isto de certa forma entendo o seu pensamento. Neste tempo aprendi que temos de achar o nosso lugar no país que escolhemos viver, mas acima de tudo somos nós que temos de nos apertar para caber e não o contrário.
A espera pelo Papai Noel é vivida com ansiedade pelos pequenos, que decoraram bolas de cartolina para pendurar nos pinheirinhos naturais montados na entrada da escola. Amanhã o Fabian vai levar um bolo para comer com os colegas e, quando voltar tenho certeza de que vai vir cheio de histórias mirabolantes. Amanhã o papai Noel vai visitar a escola. E vai ser uma alegria só!

Embrulhos

Ontem à noite pus na mesa todos os presentes que o Fabian ganhará no Natal. Comecei a tarefa mecânica entre deixar pedacinhos de durex (fita cola) na ponta da mesa, dobrar, cortar o papel colorido estampado com renas e papais-noéis. Não sei como, mas de repente meus pensamentos viajaram para a minha tia. Meus primos, os quais só conheci um. A menina e a bebê... Senti-me triste e impotente. Um nó na garganta arranhava-me tornando impossível engolir o que quer que seja. Que natal terão eles? O primeiro de muitos natais sem a mãe... Em novembro, o filho mais velho de oito anos, quis fazer um bolo de aniversário e cantar parabéns à mãe morta, mas o pai não deixou. Lembro-me como se fosse ontem quando a vó me contou por telefone, engoli em seco mas não disse nada. Assim fiquei quando soube dos detalhes que ficaram guardados durante aqueles dias, do sofrimento dela em perceber que a luta estava perdida...dos gritos no hospital...do silêncio ao qual a equipe médica achou melhor por estabelecer. Um silêncio que determinou o fim.
Meu papel cinge-se a escutar, tenho de manter-me calada para não deprimir ainda mais a vó. Mas ontem, sozinha, pus-me a pensar neles, nela. No menino mais velho que chorava no dia das crianças a dizer que não queria presente nenhum. Queria apenas a mãe. Depois de fazer todos os embrulhos, eu terminei por dormir com um no estômago...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Tempo



Pessoas são como chaminés transeuntes soltando a fumaça para fora, lutando ao mesmo tempo para que seu calor não se apague. De sua boca cinza corre uma polidez embaçada. Cinza nas roupas, nos rostos, no céu. Ao contrário do resto, o chão transformou-se em um imenso tapete amarelado em que crianças e cães estragefam-no exaustivamente. Ele se desalinha e o vento o conserta outra e outra vez. 
Dizem que o frio é psicológico, eu já acho que é psicopata. O frio espanta qualquer sorriso, congela as boas intenções, faz todo mundo correr para dentro de casa. Não há ninguém na (minha) rua depois das cinco e às quatro e meia da tarde mais parece madrugada. O inverno nem chegou e no entanto parece que está aqui há um ano como uma visita incômoda que demora a partir. 
Já a primavera não passa de uma tênue lembrança... quase emudecida pelos galhos hirtos e tortuosos que arranham o céu e o fazem chorar...
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