quarta-feira, 4 de março de 2015

Mudar

Escrevo, leio, apago, volto a escrever. Não consigo pôr as ideias de mãos dadas em fila indiana. Acho que vai ficar tudo bem por momentos, segundos até, mas depois viro-me e lá estão elas a pular e gritar em confusão. Faz muitos anos que li em um livro: mudança não é uma coisa que se faz, é uma coisa que se permite. E eu concordo, quanto mais forçamos uma situação, mais duros e inflexíveis ficamos. Porém também acredito que às vezes é preciso chutar (ou chupar como dizia a Magda) o pau da barraca. Às vezes a mudança é tão necessária que soluções drásticas precisam ser tomadas. E é o que farei, segunda-feira vou começar um novo ano, não vai ter contagem regressiva, não é exatamente no começo do mês, embora segunda seja considerada o dia mundial de início à dieta. 
Cheguei a um ponto em que não dá mais para fugir, eu preciso deixar de me negligenciar, eu preciso me pôr em primeiro, em segundo e em terceiro lugar. Que se foda o resto.
Pela primeira vez fui considerada como obesa, mas esta não é a principal sentença e sim a de que não há volta para o caminho que estava escorregando. A gordura é apenas a ponta do iceberg, a gordura incomoda, mas não é a causa, é efeito por todas as inseguranças que coleciono. Fui omissa, burra mesmo...caí na mesma armadilha de sempre. A depressão me agarrou pelos pés me puxando cada vez mais para baixo e eu deixei. 
O problema está em se acostumar com o vício e sim, eu sou viciada em comida. A minha droga eu posso encontrar em qualquer lugar. A minha droga está em casa, está a minha disposição sempre que eu for na cozinha. E  Eu não quero chegar nos cem para ver que tenho de tomar uma atitude, já me enganei demais com aquela conversa do " eu tenho controle e posso parar de comer quando quiser". É justamente sobre a ânsia de ter controle que não controlo absolutamente nada...
Mudar de cidade ajudou, mas sei que para  onde formos carregamos os nossos problemas, então eu estava ciente que trazia os meus acomodados junto com as malas e travesseiros. 
Segunda vou receber uma ajuda, um empurrão da ciência, mas eu sei que o sucesso dependerá de mais da metade de mim. Desejem-me sorte! ✌️

Filho da pauta

Quando a gente percebe que o corretor ortográfico é uma espécie de mãe digital, sempre impedindo de soltar palavrões...

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Cake



Jennifer Aniston nos faz acreditar durante quase duas horas que ela é a mulher mais miserável do mundo, o que é um grande feito para ela. Não vou negar que sempre tive um pé atrás com a namoradinha dos norte-americanos, e que também ela tem culpa por me sentir assim. Os filmes estilo sessão da tarde, comédias românticas em que dá a impressão de interpretar uma e outra vez o mesmo personagem. A mocinha que busca um amor, mas que finge o tempo todo que não quer se apaixonar, aí ela passa o filme brigando com o cara para no final descobrirem que foram feitos um para o outro. E o beijo na chuva? Não podemos esquecer nem do beijo, nem da amiga que fica empurrando ela para o senhor-certinho-que-acaba-não-comendo-ninguém, a festa em que ela bebe demais e faz uma loucura, etc, etc.
Em Cake a fórmula também não é nova: pega-se em uma atriz bonita e a enfeia (Charlize Theron que o diga), soma-se uma boa dose de tragédia e era isto. É o tipo de coisa que se a fulana não deslancha agora, não o fará nunca. O filme não tem o enredo pretensioso, mas é uma história que poderia acontecer com qualquer um ao virar da esquina e isto cria uma certa empatia com o espectador. Principalmente, é o primeiro em que imagino a Jennifer como atriz de verdade e não como aquela versão mulher de quarenta meio adolescente que me dá nos nervos.

Norte e Sul

Li em algum lugar que Marselha era uma espécie de Brasil na França. Talvez porque seja a cidade mais perigosa do país, talvez porque os lençóis balançando nas janelas a transforme em uma grande favela, não sei, nunca fui até la e toda vez que eu falo nisto, o Fernando solta um grunhido como quem diz que fazemos bem em continuar assim.
Saint Raphaël por outro lado, é um lugar calmo, quase tanto como Shiltigheim, com a diferença que há muito mais idosos e cachorros. Não sei bem qual dos dois tem mais. No entanto, mesmo sendo uma cidade projetada para ser o último pouso na velhice, não é uma cidade pensada para as pessoas. Tá certo que os prédios tem entrada para cadeirantes ou elevadores para quem não consegue subir dois degraus, mas não é este tipo de preparo de que falo. Falta espaço, faltam bancos para bater um papinho, faltam pracinhas para as crianças (vivo em uma zona escolar). Em toda a cidade só existem duas: uma é perto da roda gigante à beira-mar e a outra é muito longe, a uma meia hora caminhando sem o Fabian. Ou seja: quase no fim da cidade. Na Alsacia eu contava com três praças perto de casa. Claro que o fato de haver mais crianças e mais emigrantes contasse para que assim fosse, mas aqui sinto que a cidade foi feita para os ricos e seus iates, visto que não faltam marinas.
A primeira diferença que notei no Sul foi o fato de as ciclovias serem quase inexistentes e as poucas pessoas ao invés de se aventurarem entre os carros, preferem andar nas calçadas. É tão comum ver motoristas de noventa e lá vai muitos anos aqui, quanto era ver idosos ciclistas em Strasbourg. Ainda hoje olhei algumas fotos e senti uma pontinha de saudade, aquela gostosa, que dá vontade de levar para passear pelas ruelas de casas de madeira. Mas depois eu lembro do sol e do mar e já não há comparação possível. 

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