terça-feira, 23 de junho de 2015

Tipo muito eu


Acho que toda vez que a Maria Bethânia canta "Fera Ferida" ela dá uma olhada na platéia e dedica a mim. Então quando abre os braços e balança o cabelo soltando "acabei com tudo, escapei com vida, tive as roupas e os sonhos rasgados na minha saída", tenho a certeza de que ela está narrando minha epopéia Portugal-Brasil/ Brasil-França com as minhas malas lotadas de incertezas e um filho de três anos pela mão. Quem me conhece sabe o quanto gosto do meu país, mas zanguei-me com ele, com tudo que deu errado, com as pessoas, com a demora da vida sempre a jogar-nos como as melancias em uma carroça, e por Deus que não aguentava mais ouvir que com o tempo elas se ajeitariam e a gente teria de novo uma casa, emprego, escola (carro?), enfim. Ainda estou amargurada, tanto que nem nos meus pesadelos penso em voltar ao Brasil com medo de ser puxada àquele redemoinho de 2012. E falo como se fôssemos parentes distantes que alguma briga de família afastou. Mas sigo gostando, de um jeito ordinário, sem vergonha, acompanhando de longe o passado em bicos dos pés. Nós já fomos felizes em cantos guardados na minha memória, quando pedalava aos domingos com meu vô; quando abraçava as amigas de praia depois de um ano separadas; quando eu e o Fernando demos as mãos pela primeira vez... 
"Eu sei que flores existiram, mas que não resistiram à vendavais constantes". Até hoje com o punhado de família que ainda tenho contato (menos que meia dúzia de gente), ouço lamentos como que para me sentir culpada porque vai fazer dois anos que não nos veem, paciência. Skype tá aí para isso. Não me sinto preparada para voltar, tampouco  me sinto forte o bastante para tirar o marcador desta página, a qual sempre volto seja por medo ou raiva do presente. Já sei que esse caso não tem solução: mas se for pra ser fera ferida que seja na Cotê D'Azur...ao invés de num apê em Porto Alegre.

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